domingo, 12 de dezembro de 2010

Formatura

Uma de minhas fotos preferidas de quando eu era criança é uma foto da minha formatura do C.A. (como era chamada a classe de alfabetização, que hoje corresponde ao 1º ano do ensino fundamental). Tem uma foto com a minha mãe e outra com a minha madrinha. Eu, toda de branco, com o capelo branco, segurava o canudo junto com a minha dinda. (Logo descobri que o canudo estava todo em branco também, achei uma tremenda enganação, fiquei chateada com a escola!). Isso já faz [pausa para a conta] 23 anos.

Eis que, neste final de semana, os papéis se inverteram: era eu a dinda lacrimosa que assistia à formatura do seu afilhado no Jardim III (hoje não se faz formatura para o C.A....). Já no início da cerimônia, durante a execução do Hino Nacional, quando eu o vi empertigado, virado para a bandeira do Brasil e cantando o nosso hino, se embaralhando um pouco nas palavras mais difíceis, as lágrimas começaram a nascer em meus olhos e pensei: "Isso vai ser um problema!", rs. Cada gesto, cada palavra dita, o discurso emocionado das professoras, tudo fez-me ver como o nosso menino crescia, desenvolvia-se, tornava-se uma nova pessoa.

O formando, por sua vez, não se abalou; fez tudo conforme mandava o cerimonial, com a feição bastante compenetrada - bem diferente do jeito moleque que é sua característica mais marcante. Até na encenação de Natal que teve após a cerimônia, em que foi um dos ajudantes de Papai Noel, não se aproveitou da situação para fazer uma das suas, que sempre arrancam gargalhadas nossas e já o fizeram proclamar: "eu sou o cara mais engraçado da família!" (Quem haveria de contestar-lhe o título?).

Mas, terminada a pompa e a circunstância, ele logo transformou-se no Gui de sempre: correndo a tirar fotos com os coleguinhas de escola e, numa de suas traquinagens, tirar uma foto no colo de uma estátua, metendo-lhe o dedo pelo nariz acima. A dinda, a um canto, ainda enxugava as lágrimas.

sábado, 20 de novembro de 2010

Sorteio de um Picasso

No shopping, a moça me entregou um panfleto. Era sobre uma promoção de Natal - dessas que todos os shoppings se preocupam em fazer todo final de ano (como se precisasse desse incentivo a mais para lotar seus corredores!). O texto era o seguinte:

"A cada R$ 250 em compras você concorre a milhares de prêmios instantâneos e ao sorteio de um Picasso no final da promoção!"

Embatuquei. Não podia acreditar. Um shopping sorteando uma tela do Picasso!!! Imaginei que tela dele poderia ser sorteada numa promoção de shopping: seria da fase azul? Da fase rosa? Mais do que isso, conjecturei se o receptor de tal obra teria a mínima ideia do tesouro que lhe seria posto em mãos!

Mas é claro que o devaneio não durou muito: foi só até eu reparar na parte inferior do panfleto, onde estava a foto de um carro Citroën Xsara Picasso. Às vezes eu viajo na maionese mesmo...

sábado, 6 de novembro de 2010

Dois meses de ausência

Vejo que fiquei exatamente dois meses fora do ar nesse blog.

Eu poderia dizer que houve falta de assunto, mas isso é desculpa esfarrapada: em um blog, em que se pode discutir qualquer coisa, como alguém pode ficar com falta de assunto?! Óbvio que esse não foi o motivo.

A razão verdadeira é que estou cansada de escrever, e isso não está afetando só este blog (o que é pior): está tendo reflexos na minha vida cotidiana, posto que escrever é minha principal ferramenta de trabalho. Vejo que meus textos não têm saído com o mesmo sabor de tempos atrás e isso me desestimula ainda mais. Entrei num vale de produção e estou tentando arranjar meios de me resgatar desse estágio atual.

Primeiro de tudo, paciência. Acho que qualquer um enfrenta problemas como esse, e, penso eu, só o tempo e a persistência podem mudar o quadro. Mas o primeiro passo acredito que já dei: apenas escrevendo este texto, já me movimento da letargia em que me enterrei nos últimos tempos...

domingo, 5 de setembro de 2010

Jornalismo tendencioso: como fazer

Sou assinante da Exame¸ revista de economia do Grupo Abril. Na edição de 25 de agosto, fui surpreendida por uma reportagem que pode dar a exata medida de como uma matéria pode ser tendenciosa e servir a interesses outros, alheios ao interesse jornalístico.

Quem precisa de trem-bala? não é a matéria de capa da edição, mas tem chamada na capa e é o destaque na "Carta ao Leitor", escrita pela editora da revista. O conteúdo da matéria é o seguinte: a repórter questiona o investimento previsto pelo atual governo federal em um trem-bala (40 bilhões de reais), se o trânsito nos grandes centros urbanos é caótico e o transporte público não atende à população. O fator humano da reportagem fica a cargo de Maria dos Anjos, uma senhora que leva 2 horas e meia para chegar a seu trabalho, que fica a 37 quilômetros de sua casa. A questão levantada é: “por que o governo federal se propõe a gastar 40 bilhões de reais num trem-bala se o trânsito das grandes cidades está à beira de um colapso?”

Onde está o jornalismo tendencioso, neste caso? Ele reside no simples fato que não há uma conexão lógica possível entre o tempo que dona Maria dos Anjos e outros brasileiros fazem para ir ao trabalho com o projeto do trem-bala. Não se pode criticar o segundo tendo como base o primeiro: o transporte público e o planejamento do trânsito nas cidades são de responsabilidade das prefeituras, não da União.

Poderíamos pensar, numa ótica otimista, que os editores da revista e a jornalista responsável pela matéria simplesmente ignoravam o fato de que transporte público urbano é de competência das prefeituras. Mas, não: na própria matéria, há uma fala do diretor-geral da ANTT: “Cabe às prefeituras cuidar do transporte nos municípios, e aos governos do estado, nas regiões metropolitanas”.

De fato, é inadmissível que a dona Maria dos Anjos gaste quase três horas para percorrer 37 quilômetros utilizando o transporte público de São Paulo, mas o real responsável por isso é a prefeitura da cidade. E será que a matéria questiona a prefeitura de São Paulo a respeito disso? A resposta é: não. A prefeitura de São Paulo e o governo do estado aparecem lá no final da reportagem, no último intertítulo, bem no final da pirâmide invertida – a ser lido apenas pelos leitores persistentes – para falar sobre a duplicação da estrada do M’Boi Mirim, na zona sul paulistana.

É errado questionar? - Questionar é saudável e a tarefa número um de qualquer jornalista. E o projeto do trem-bala precisa mesmo ser questionado, colocado em perspectiva. Ele não representa um investimento concentrado em uma área muito pequena do Brasil (Rio-Campinas-São Paulo)? Não seria mais viável e economicamente responsável investir esse dinheiro na infraestrutura aeroportuária de que já dispomos? Quais as alternativas possíveis ao trem-bala?

O problema de tudo nesta reportagem é como se questiona. Lá no meio da matéria, há a análise de especialistas em infraestrutura (que não são identificados) de como o dinheiro destinado ao trem-bala poderia ser mais bem empregado. E esse deveria ter sido o mote da reportagem, ponto. Ao colocar o drama de dona Maria dos Anjos, erroneamente atribuindo à União uma responsabilidade que é da prefeitura e do estado de São Paulo, a matéria assume seu claro oportunismo eleitoral. Afinal, por que a prefeitura e o governo estadual de São Paulo não foram questionados frontalmente sobre a situação de dona Maria dos Anjos e de outros tantos paulistas e paulistanos? É só lembrar o histórico político do Grupo Abril e de seus fundadores para saber o porquê.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Resenha: "As meninas"

Para começar, quero deixar registrado: sou grande admiradora do estilo de Lygia Fagundes Telles. Mas devo confessar que só conhecia alguns de seus contos - que, sem medo de exagerar, estão entre os meus preferidos nesse gênero literário -, até começar a acalentar a ideia de ler também os seus romances. O primeiro que elegi foi um de seus mais aclamados trabalhos, As meninas. E esse foi o livro que li neste mês de agosto.

O livro é, na verdade, um retrato de três universitárias que moram no mesmo pensionato de freiras em São Paulo. Lorena é a menina rica, filha de família quatrocentona paulista, aristocrática e sensível. Está em um romance platônico com um homem casado, e ainda se conserva virgem. Lia, filha de baiana com alemão, é a revolucionária que luta para libertar o namorado, preso pelo regime militar. Ana Clara, bela e perturbada, tenta esquecer uma infância e adolescência de maus tratos através do álcool e das drogas, além de sustentar um triângulo amoroso entre seu traficante, Max, e o noivo rico.

São histórias ricas, bem entremeadas numa forma de discurso que jamais vi em outro livro: Lygia mescla as vozes das suas meninas, de forma que a narração em primeira pessoa se reveza entre as três amigas. Em um momento estamos lendo o que Lorena está fazendo, em discurso indireto (terceira pessoa); na frase seguinte, é a própria Lorena quem assume a narrativa da história, e assim acontece com as duas outras personagens.

No momento em que o eu-narrador é assumido por Ana Clara, aí é que o talento de Lygia se supera: ela consegue reproduzir, no papel, as (des)conexões no discurso de uma mente alterada pelos narcóticos. Sem dúvidas, é a minha voz narrativa preferida dentro do livro, pelo que tem de pungente e verdadeiro.

Outro mérito indiscutível da obra é o que representa um ato de coragem de sua autora: colocar um enfoque, durante o período mais negro da ditadura militar, sobre grupos de resistência ao regime. Sequer considerar a existência desses grupos já seria um acinte; que dirá fazer uma de suas protagonistas uma militante! E não fica apenas nisto: o ato de coragem vai além e Lygia descreve com detalhes uma sessão de tortura, que, de acordo com alguns, seria o primeiro depoimento de tortura de que se teria notícia. Lygia explica: "Como eu poderia escrever um romance morno em pleno ano de 1970?"

Apesar da singeleza do nome do livro, não se engane: ele se mostra muito mais denso do que, de início, se pode prever.

Cotação: Cinco de cinco estrelas. Obrigatório.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A morte da bailarina

Eu sempre admirei muito as girafas. Mas não é muito difícil admirá-las, afinal: como, apesar de tão compridas, não são desengonçadas? As pernas longilíneas, o pescoço altivo, graciosamente se inclinando para pegar as folhas das árvores - uma elegância sem par. No mundo animal, a girafa é como a bailarina da música do Chico Buarque (a que não tem chulé e frieira).

Foi duro entrar na página do Globo Online de hoje e me deparar com a bailarina numa pose que jamais vi: estirada ao solo, olhos fechados, como vítima de um crime brutal. A história é de levar às lágrimas. Após ter sofrido uma vida de maus-tratos em um circo, uma pobre girafa foi resgatada e levada ao Zoo de Goiânia. Lá, em vez de um pouco de conforto - que nunca seria completo num espaço confinado, mas definitivamente melhor que a rotina estressante de um circo - a bailarina foi envenenada com chumbinho.

Quem, meu Deus, quem envenena uma girafa, um ser que nem fazer barulho faz?

Mais aterrorizante que a foto da bailarina morta, é saber que 77 animais já morreram nesse Zoo. Isso é abominável. O que podemos fazer para que essa matança termine?!

P.S.: lembro-me agora que minha admiração pelas girafas vem de quando eu era bem pequena. Um de meus brinquedos favoritos era justamente uma girafa de borracha.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Resenha: "Alice"

Confesso que o lançamento de "Alice", do Tim Burton, acabou influenciando a minha decisão de ler este livro em julho. Em uma ótima promoção, comprei uma edição linda de Alice no país das maravilhas - Através do espelho, da Jorge Zahar, com as gravuras originais de John Tenniel e a tradução caprichada de Maria Luísa Borges (que ganhou o prêmio Jabuti por ela).

Apesar de ser uma história infantil, penso que os adultos talvez se divirtam mais com os diálogos completamente nonsense que Alice trava com os habitantes do país das maravilhas e do espelho. Porém, acho o livro altamente aconselhável a crianças, principalmente porque estimula o questionamento o tempo todo: se não é Alice a fazer as perguntas, são os seres que ela encontra pelo caminho que esgotam a paciência da menina com perguntas fora de propósito para a nossa lógica humana - mas cheias de sentido para eles.

Como fã dos Beatles, já sabia da influência de Lewis Carroll no trabalho de John Lennon, mas ao ler Alice, dá para visualizar perfeitamente componentes do estilo de Carroll em algumas músicas de Lennon. As letras de Lucy in the sky with diamonds, A day in the life  e I'm the walrus são exemplares para perceber essa influência.

Devo fazer um parênteses para elogiar essa edição caprichada da Jorge Zahar, que acertou em tudo: a capa dura, em amarelo, com forro em contrastante roxo; os tipos utilizados na diagramação, bem de acordo com o livro; a escolha do papel amarelado, sem aquele branco lavado que incomoda a vista; e o formato, em livro de bolso. Tudo nota 10!

Quanto ao conteúdo, me diverti muitíssimo. Quatro de cinco estrelas.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Marca da Copa 2014, que decepção

Ontem, com toda a pompa e circunstância que a ocasião pedia, o Brasil divulgou a marca da Copa 2014. Infelizmente, a papagaiada toda não deu para maquiar o simples fato de que a marca é horrenda e, principalmente, equivocada na simbologia que utiliza. Vamos lá.


1) As cores utilizadas. Tem coisa mais clichê, cômoda e preguiçosa que usar as cores verde e amarelo para representar o Brasil?

2) O objeto. As três mãos bizarras formam a figura da taça, ou seja, mostra a vitória, a premiação. Mas a marca de uma Copa do Mundo não deveria ser essa, e sim o jogo, o fair play. Afinal, a Fifa não se vangloria de que tem mais países associados que a própria ONU e propõe o esporte como uma forma de promover a paz entre os povos? Então não é a vitória (que pressupõe um perdedor) o que deve ser reverenciado na marca, e sim o próprio futebol.

3) Que jurado é esse? Quais as credenciais de figuras como Paulo Coelho, Gisele Bündchen e Ivete Sangalo para decidirem a melhor marca para a Copa de 2014? Essa eu não entendi.

O blog Magenta, do Globo Online, conta que a Associação dos Designers Gráficos do Brasil foi procurada pela Fifa para organizar um concurso nacional para escolher a marca, mas esse concurso acabou não se concretizando. Acredito que poderiam surgir resultados muito mais interessantes se houvesse esse concurso.

A propósito: a marca foi concebida pela agência África, entre 25 concorrentes. Todas as marcas foram elaboradas por agências.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Resenha: "A volta"

Bruce e Andrea Leininger eram pais de James, um adorável garotinho de dois anos. A criança crescia saudável e feliz, a não ser por um terrível problema: James sofria com pesadelos horripilantes quase todas as noites. Eram relatos chocantes e fiéis sobre um homem que morria em um acidente de avião. Até o nome da marca do avião o garotinho sabia - e era um caça da Segunda Guerra Mundial.

"A Volta" é o relato de como esses pais tiveram que deixar de lado suas crenças, rever seus conceitos, para tentar entender o que acontecia com seu pequeno. Após anos de buscas, eles chegaram à conclusão de que James é a reencarnação de James Houston Jr., piloto de caça americano da Segunda Guerra que morrera em uma ação no Pacífico.

O livro tem fotos interessantes de James Houston durante a Guerra e desenhos do pequeno James que mostram grandes batalhas aéreas, sangue e fogo, muito fogo - algo forte para uma criança pequena. Mas, se levarmos em conta a parte escrita, documental, o livro é monótono e gira em círculos. Para não chegar diretamente à conclusão das pesquisas conduzidas pelos pais do menino, o jornalista que redigiu a história, Ken Gross, dá voltas em torno das personalidades de Andrea e de Bruce, mas acaba soando extremamente repetitivo no processo.

Avaliação: O tema é interessante, mas a forma como foi tratado acabou deixando a leitura bastante chata em vários pontos. Duas estrelas e meia.

P.S.: para quem se interessa pelo assunto, os pais do menino mantêm um site sobre o livro: www.soulsurvivor-book.com

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Coelha conectada

Quando solto Carlota, costumo sentar-me no chão com meu laptop no colo, vigiando-a de perto para que não apronte muito. Como a deixo correr mais ou menos livremente, às vezes ela passa por cima do teclado do notebook, gerando resultados imprevisíveis.

Hoje, num desses "passeios" sobre o teclado, ela acabou fazendo uma busca no Google: p=

Digam o que quiserem, mas tenho quase certeza de que foi uma tentativa de fazer um emoticon mostrando a língua para mim...

sábado, 19 de junho de 2010

Novo blog!

Resolvi criar um blog para falar sobre o mês que passei na Itália.

O endereço? Anotaí: www.firenzeeeu.blogspot.com

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Flashes de Florenca

1) Tinham me dito que a Italia era parecida com o Brasil. Bom, nao eh. Pelo menos, Florenca nao eh. A cidade eh limpa, os transportes funcionam. A unica coisa caotica eh a quantidade de turista na cidade, mas isso era esperado a essa epoca do ano. (Alias, nota preconceituosa: como os turistas asiaticos sao cafonas!!!)

2) Por causa dos turistas, tudo eh muito caro. Muito. A comida, entao, nem se fala. Ainda nao tive coragem de comer na rua, so tenho feito em casa.

3) Adooooro o supermercado daqui. Cheio de guloseimas que nao tem no Brasil. Tem uma sobremesa da Ferrero que voce compra na saida do caixa. Sao uns potinhos que voce sacode e mete no freezer, de um dia pro outro. No dia seguinte, come-se um sorbet delicioso que ainda ajuda na digestao (se existir no Brasil, alguem me diz onde comprar!).

4) Os italianos nao sabem pronunciar meu nome. Nao sabem! Acho que nunca passou Seinfeld aqui. Meu professor me chama de Eloisa, e minha professora, de Elena - e agora, todos os meus colegas de classe me chamam de Elena. Estou me sentindo numa novela do Manoel Carlos.

5) Aprender italiano esta sendo mais dificil que o esperado, mas estou adorando.

Assim que puder (internet a 2 euros a hora eh lenha!!!), volto com mais informacoes...

Resenha: Duas viagens ao Brasil

Hans Staden realmente nasceu com a bunda virada para a Lua. Eh a impressao que se tem ao ler "Duas viagens ao Brasil": apesar de capturado por uma tribo canibal, ele consegue se manter vivo e conquistar a simpatia (ou o temor, melhor dizendo), dos indios tupinambas que o aprisionaram.

Hans Staden

Hans era um rapaz alemao tipico do seculo XVI, ou seja, a cata de aventuras no Novo Mundo que se descortinava aos europeus. Foi ao Brasil duas vezes: na primeira, pela Coroa Portuguesa, e a segunda pela Espanhola. Era, portanto, um mercenario - sem a carga pejorativa que esse nome hoje encerra. Era uma ocupacao comum naquela epoca. 

Foi na segunda viagem que foi convencido a permanecer no Brasil como contratado dos portugueses que moravam no local. Ele seria o responsavel pela vigilancia da area - somente ele e alguns nativos da tribo dos tupiniquins, amigos dos portugueses e inimigos dos tupinambas. E foi durante um ataque dos tupinambas que Hans acabou cativo.

Os tupinambas tinham o habito de comer seus presos, entao Hans nao poderia esperar um fim diferente. Mas ele nao desanimou e tentou, habilmente, fazer com que os selvagens nao o matassem. Primeiro, disse que seu Deus estava muito chateado com os tupinambas, e, por isso, alguns indios da tribo que estavam doentes nao iriam se curar. Foi o que aconteceu e, a partir dai, os tupinambas passaram a confiar nas premonicoes do alemao. Isso envolvia ate que o prisioneiro conversasse com "seu Deus" para que a pesca fosse farta ou para que alguma tempestade se dissipasse. Logico que a estrategia do alemao foi inteligente, mas arriscada: se o "seu Deus" nao tivesse dado um empurraozinho, teria virado comida de indio.

Entao, a interessante historia de Hans Staden mostra um europeu com inteligencia e um pouco de sorte que talvez forneca o relato mais detalhado sobre o convivio com os indios brasileiros na epoca do descobrimento. Uma leitura otima para quem gosta de historia, mas realmente Hans Staden merecia um espaco maior no estudo da Historia do Brasil.

Cinco de cinco estrelas.

(Desculpem a falta de acento, os teclados italianos tem me deixado louca)

sábado, 8 de maio de 2010

Neuroses pré-viagem

Finalmente, após longos seis anos sem férias, vou desfrutar minha tão sonhada viagem à Itália. Só que, em vez de me ater ao lado bom desse sonho que se realiza, tenho ficado cada vez mais agoniada com todos os problemas que podem acontecer - talvez numa espécie de trauma por ter visto tanto Férias Frustradas na Sessão da Tarde.

O resultado é que, a apenas duas semanas da minha primeira viagem internacional, toda sorte de neuroses já passaram pela minha cabeça, e algumas ainda persistem, me deixando angustiada. Talvez enumerá-las aqui seja um bom tratamento para a minha ansiedade crônica (e hereditária, já que toda a minha família é assim).

 Lembram disso?

1) Perder a bagagem. Essa, realmente, é a Top 1 das minhas preocupações. A possibilidade de ter minha bagagem extraviada na ida ou na volta (que me parece pior!) está tirando o meu sono. E não tem adiantado as dezenas de amigos dizendo que nunca aconteceu isso com eles, etc, porque é aí mesmo que meu sistema de neuroses funciona: se entre tantos conhecidos meus ninguém nunca teve a bagagem extraviada, pela lei das probabilidades, eu é que posso ser a próxima vítima das confusões das companhias aéreas. Cruzes!

2) Ser barrada de entrar na Itália. Tá, confesso que a possibilidade é remota, já que estou com a passagem de volta comprada e acomodações reservadas no país. Mas sabe como é, né? A gente sempre acha que pode encontrar um agente menos benevolente que possa encrencar com algum detalhezinho que deixamos passar (eu não acho que deixei passar qualquer coisa, mas, sabe como é a neurose...).

3) Me enrolar toda no aeroporto e perder o voo de conexão. Tanto na ida quanto na volta, devo passar pelo aeroporto de Paris, e de lá pegar o voo de conexão para a Itália ou para o Brasil. Só que eu sou muito tapada para andar em lugares que nunca fui antes, saber onde fazer determinadas coisas. Aqui no Brasil eu me viro perguntando às pessoas, transeuntes, atendentes. Quem tem boca vai a Roma, certo? O lance é saber se essa boca, que não sabe falar francês, vai conseguir chegar a Florença! Tenho medo de ficar rodando como barata tonta no Charles De Gaulle e acabar perdendo o voo.

4) Os euros não serem suficientes. Tudo bem. Eu tento pensar racionalmente e considerar que consegui juntar dinheiro suficiente para não passar aperto na Itália - ainda mais que as acomodações já estão pagas, só precisarei pagar por alimentação e transporte por lá. Mas a neurose.... que diabo! Fica ela martelando na minha cabeça que pode ter havido alguma inflação maluca na Europa e o dinheiro não render tanto quanto eu estou pensando...

Bom, essas são as principais neuroses que estão rondando minha cabeça. Há outras, claro, mas essas são menores e eu consigo lidar com elas - por enquanto! rs

terça-feira, 27 de abril de 2010

Resenha: "Um bonde chamado desejo"

Jamais havia lido ou visto trabalho algum de Tennessee Williams, e fui começar logo com o que é considerada sua obra-prima: "Um bonde chamado desejo".

Na peça, Blanche DuBois é uma professora de inglês vinda de uma tradicional família do Sul dos EUA. Após perder a fazenda da família, ela vai passar uns tempos na casa da irmã Stella, casada com o operário Stanley Kowalski. O choque de culturas entre a aristocrática Blanche com o cunhado grosseirão é o que dá a tônica para toda a peça, com Stella se desdobrando para representar um ponto de equilíbrio entre personalidades tão opostas. A tensão do relacionamento entre os três vai num crescendo até que revelações sobre a vida pregressa de Blanche forçam o clímax da história.


Vivien Leigh como Blanche e Marlon Brando como Kowalski no filme de 1951* 


Difícil discorrer sobre "Um bonde chamado desejo" sem estabelecer comparações entre o autor e Nelson Rodrigues: são estilos narrativos muito parecidos, o mesmo apreço pela temática do conflito pessoal e familiar, o desejo sexual como forma de punição para a mulher (mas de extravasamento para o homem), etc. Em vários momentos da leitura, eu podia ver relações com peças rodriguianas como "A falecida", "Bonitinha, mas ordinária", só para citar algumas.


Escrita no final da década de 1940, na América do pós-guerra, "Um bonde chamado desejo" retrata a mudança de valores que esse período da história trouxe para a sociedade americana - especialmente numa região tradicional como a Nova Orleans, que, na época, vivia uma efervescente cena de jazz e blues.

Avaliação: quatro de cinco estrelas, porque a história é datada [e ainda prefiro Nelson Rodrigues].

P.S.: chama a atenção o fato de haver apenas um personagem não-branco que tenha nome (Pablo, parceiro de carteado de Stanley). A vizinha negra ganhou o nome de "Mulher Negra". A vendedora de flores é a "Mexicana". Reflexos do preconceito racial da época, talvez?

*Por algum motivo que ignoro completamente, o filme recebeu o título em português de "Uma rua chamada pecado".

segunda-feira, 19 de abril de 2010

"Tenho pressa, muita pressa..."

Lembra do coelho de Alice no país das maravilhas que carregava um relógio enquanto corria de um lado para o outro, sempre atrasado para algo? Sempre achei que era traço do personagem de Lewis Carroll, mas só agora, ao ter meu primeiro coelho de estimação (coelha, na verdade), vejo que isso é traço de personalidade da espécie: eles têm muita pressa, para tudo.

 Descansando...

É um corre-corre, pinotes para todos os lados e, de repente, puft: a pilha duracell acaba e ela cai de lado para descansar. São descobertas diárias sobre como lidar com a Carlota - e olha que eu não sou propriamente "verde" em ter animal. Já tive um canário e um cachorro. Já convivi com gatos também, por conta de um antigo namorado. Mas nada, nada disso me preparou para o que é um coelho.

E o que é um coelho, afinal de contas? Um coelho não é um cachorro. Não é um gato. Não espere de um coelho a docilidade de um cão, festinhas, pulos no colo: o coelho faz o que ele quer. ELE tem que se aproximar de você, não o inverso. Também não espere que o coelho tenha a independência de um gato. Ele até consegue se virar sozinho em muitas coisas: toma banho, cuida de sua higiene. Mas como são frágeis! E não podem ficar soltos pela casa sem um mínimo de supervisão, sob pena de ter móveis e - pior - fios elétricos roídos.

Mesmo com toda pesquisa que fiz antes de me decidir a comprar a Carlota, o trabalho está sendo muito maior do que eu havia antecipado. Ainda estou aprendendo a lidar com um animal muito arredio, que não gosta de apertões quando justamente minha vontade é de abraçá-la o tempo todo.

Mas vale cada minuto, porque já estou completamente apaixonada por ela.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Parece, mas não é

Quem não conhece a cidade do Rio, ao ver esse anúncio, acha até que esses santos ficam perto um do outro. Mas não podia ser mais diferente...

domingo, 11 de abril de 2010

Apresentação

Para quem não conhece, a mais nova moradora do meu cafofo, Carlota Josefina (ou simplesmente Totinha):

terça-feira, 30 de março de 2010

Resenha: Nunca houve um homem como Heleno

Antes de Edmundo pensar em nascer, e muito antes da expressão bad boy ser cunhada, o futebol brasileiro teve um jogador controverso, irreverente e, por vezes, insuportável mesmo. Todos esses adjetivos se materializavam na figura do centro-avante Heleno de Freitas, herói do Botafogo nos tempos áureos do time carioca, tema da biografia Nunca houve um homem como Heleno, do jornalista Marcos Eduardo Neves.

De gênio irascível e com complicações de saúde devido ao vício em éter e a uma sífilis diagnosticada tardiamente, Heleno não tinha papas na língua e falava tudo o que lhe vinha a cabeça. Como uma amostra de como ele era boquirroto, segue um trecho do livro que exemplifica bem seu temperamento:

O Campeonato Brasileiro de 1946 foi decidido em março de 1947, com a seleção carioca desafiando a paulista no Pacaembu. O jovem pernambucano Orlando de Azevedo Viana - que por sua categoria refinada no meio-de-campo do Fluminense foi apelidado de Orlando Pingo de Ouro -, sentindo a pressão, se mostrava tímido em excesso no primeiro tempo. No vestiário, em vez de dar força ao estreante, Heleno esbravejou com o colega de equipe:
- Você não é Pingo de Ouro! É pingo de merda!
Para os jornalistas, foi mais comedido:
- Se ele é Pingo de Ouro, eu sou as cataratas do Niágara jorrando brilhantes. 

O livro está repleto de histórias semelhantes, e não há como saber que sentimentos Heleno de Freitas nos desperta: raiva, desprezo, pena, comicidade? É um misto de tudo isso.

O fato é que a biografia é escrita de forma envolvente, uma leitura que prende a atenção. Apenas peca por se repetir em alguns momentos, mas a história incrível do biografado vale o pequeno esforço de relevar este pormenor.

Avaliação? 4,5 de cinco estrelas. Simplesmente perfeito para quem, como eu, adora a história do futebol brasileiro.

Em tempo: há rumores sobre a produção de uma adaptação cinematográfica dessa biografia, com Rodrigo Santoro como Heleno de Freitas. Torço para que isso se concretize! Seria um filme muito interessante.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Postagem rápida...

Só pra dizer que estou a-man-do minha viagem até o Chuí, na fronteira do Brasil com o Uruguai. Estou quebrada por causa da viagem (Rio-Porto Alegre-Pelotas-Chuí no mesmo dia!!!), mas adorando o clima, a gente, o lugar.

Em breve farei um post mais completo, porque ainda estou no Sul (e a trabalho). Há tanto a se fazer!

segunda-feira, 15 de março de 2010

Novas aquisições bibliotecárias

Ai, ai. A Siciliano tinha que perder o meu email de vez! Caso contrário, nunca mais conseguirei economizar um caraminguá que seja. Eles sempre me mandam emails com promoções imperdíveis - e eu, que sou facim, facim com esse negócio de livro, não consigo resistir, né?

A última gracinha deles foi o tal do desconto progressivo: na compra de quatro livros ou mais, levava 30% de desconto. 30%! Quem compra livro com certa regularidade sabe o que um desconto de 30% significa: vários livros saindo pelo preço que apenas um deles sairia na marcação normal.

Para o preju não ficar maior, convenci o namorado a rachar comigo essa compra: ele encomendava dois livros para ele, e eu mais dois para mim, pronto. Eis que minhas novas aquisições bibliotecárias chegaram:

As Rainhas do Rádio - símbolos da nascente indústria cultural brasileira
(Maria Luisa Rinaldi Hupfer - Senac Editorial - 232 páginas)

Sempre tive uma queda pela Era de Ouro do rádio brasileiro: como devia ser a vida sem a televisão? Como construir a imagem de um ídolo usando apenas a sua voz (e as suas fotos, que saíam nas revistas e jornais)? É um processo curioso de construção de uma celebridade, e ninguém encarnou melhor isso do que as Rainhas do Rádio.

Confesso que a compra também foi influenciada por eu ter visto, recentemente, Dalva e Herivelto, minissérie que adorei em todos os seus mínimos e ricos detalhes.

Guia politicamente incorreto da História do Brasil
(Leonardo Narloch - Leya - 304 páginas)

O título do livro me chamou a atenção: eu, que adoro História, gostaria muito de saber o que o autor desvenda como "mito" de tudo o que nos foi passado há anos sobre as origens do nosso país e sua história. Algumas amostras de desmistificações que constam na orelha do livro: "Zumbi tinha escravos"; Santos Dumont não inventou o avião"; "João Goulart favorecia empreiteiras"; "A origem da feijoada é europeia" (chocada!); "Aleijadinho é um personagem literário" (???).

Dá pra notar que o rapaz polemiza mesmo temas sensíveis à nossa História.

(Aliás, a capa a la Sargent Pepper's é uma graça!)

segunda-feira, 1 de março de 2010

O chiclete e os passarinhos

Trabalho em um órgão público federal e, às vezes, acontecem certas coisas que nem Deus acredita. Principalmente nos malfadados eventos que reúnem gerentes de todo o país para discutir assuntos da maior importância... 

Nesses eventos, então, o bicho pega! O afã por falar bonito, se expressar bem, sempre acaba fazendo com que alguns incautos tentem parecer cultos para puxar os holofotes para si. No final das contas, acabam falando a maior bobagem sem ter a menor noção de como começaram. Porque, para eles, não importa o que eles vão falar: eles precisam falar qualquer coisa, ser notados, mesmo que de forma negativa - tipo "falem mal, mas falem de mim". O título desse post faz referência a um acunticido que ilustra bem essa "dinâmica organizacional".


Foi há coisa de duas semanas. Gerentes de todo os estados do Brasil estavam na sede da empresa para uma reunião de dois dias com os chefões - o presidente do instituto, diretores, o coordenador-geral, enfim, todos os poderosinhos. Formou-se aquela mesa de abertura do evento, cada otoridade fez seu discurso e pronto: os trabalhos estavam prestes a começar. No que um cidadão levanta a mão e pede para fazer um aparte.

"Eu gostaria de falar uma coisa, seria possível?"

Permissão concedida.

"Eu gostaria de pedir que as pessoas não jogassem chiclete no chão, porque isso está matando os passarinhos".

Momento WTF? em todo o auditório. O rapaz prossegue:

"É, a gente vê os passarinhos carregando o chiclete no biquinho, realmente, não é legal. Como o (nome do instituto) é um órgão de utilidade pública, achei por bem pontuar isso"*. Sem qualquer transição de tópico, o cara começou a lembrar a morte de Zilda Arns no Haiti para então, finalmente, abordar um assunto que realmente tivesse algo a ver com a reunião.

Após quase 20 minutos de blá-blá-blá sem qualquer sentido, ele termina o que tinha para dizer e a reunião é retomada como se nada tivesse acontecido. Quer dizer, quase nada: na mesa de abertura, um dos diretores ainda tenta, a todo custo, abafar uma gargalhada.


* Se órgão fosse o Ibama, tudo faria mais sentido. Mas não, não é o Ibama...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Resenha: "Orlando"

Meu primeiro e único contato com a literatura de Virginia Woolf até hoje havia sido Mrs. Dalloway - que cheguei a comentar com certa frequência no bloguito antigo. Para o Projeto 12 livros em 12 meses, resolvi arriscar em fevereiro a história de Orlando, o nobre inglês praticamente imortal que é homem na primeira parte do livro, e se transforma em mulher na outra metade.

**** SPOILERS ****

O estilo de escrita de Virgínia é o mesmo que encontrei ao ler Mrs. Dalloway, sem dúvidas: o "flanar narrativo" está lá, presente. Só não é tão intenso como em Mrs. Dalloway porque não acompanha vários personagens quase que simultaneamente, mas apenas se debruça sobre a vida de Orlando.

 
Tilda Swinton como Orlando, na adaptação cinematográfica da obra.

Quanto ao enredo, é interessante como Orlando encara com naturalidade a transição para o sexo feminino, como se já soubesse o tempo todo que isso iria acontecer: tudo é muito trivial, fleumático, british. A forma como Orlando contempla a vida não muda com o sexo, então é curioso pensar que, fora a metamorfose física, ele continua o mesmo ser humano na essência. Embora a própria Virgínia tenha tentado pontuar justamente o contrário, que a mudança de sexo alterou a visão de Orlando, não foi bem isso que senti ao ler o romance. Então, pensando nesse aspecto, a história não atingiu o seu objetivo - ou cobriu um outro inteiramente diferente, tipo "mirou em um e acertou em outro".

Vale pontuar que a leitura foi facilitada enormemente pelo fato de a tradução ser de Cecília Meireles: o texto está um primor e, acredito, não deve estar muito distante do próprio original.

No geral, classifico como três de cinco estrelas porque é inevitável a comparação com Mrs. Dalloway e, dessa forma, Orlando é uma obra inferior quando comparada.

Trecho a destacar: toda a parte em que Virgínia Woolf escreve o parto do filho de Orlando é maravilhosa.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Resenha: "Gomorra"

Acabei esperando o último dia do mês para poder escrever a resenha de Gomorra, de Roberto Saviano, livro que me propus a ler em janeiro para o "Projeto 12 livros em 12 meses". Como os posts abaixo atestam, tive um pouco de dificuldade no início da leitura pela descrição excessiva em algumas passagens, o que melhorou consideravelmente no decorrer do livro. Falo, agora, de outros aspectos positivos e negativos da obra.

O livrorreportagem de Saviano é um dossiê completo sobre a máfia napolitana Camorra, e desmistifica muitas imagens que fazemos dos mafiosos - culpa dos filmes hollywoodianos, evidentemente. Para seus integrantes, a máfia é encarada como um empreendimento, um grupo empresarial que atua em vários ramos. Contam, é claro, com um braço armado cada vez mais potente, mas os fins gerais são sempre o lucro e o crescimento. Envolvem-se na venda de desde armas e drogas até roupas de marca falsificadas e empreendimentos imobiliários. Eles têm alcance em governos municipais, estão basicamente por toda parte, conforme conta o relato minucioso de Saviano.

Cena do filme "Gomorra", adaptação do livro.

Só que esse relato minucioso trouxe um grande problema: são muitas "famílias", muitos clãs, localidades, nomes. É fácil se perder nas descrições, e o livro peca muito em não contar com infográficos, tabelas e outros recursos visuais que ajudassem a visualizar as relações de poder dentro das famílias, as rotas de venda de drogas e armas, etc.

O fato de o autor ter nascido e sido criado em Nápoles contribuiu muito para que a narrativa não ficasse distanciada, jornalística demais. Há emoção envolvida na medida certa, de forma que também não beire o pieguismo. Isso, realmente, é um ponto muito positivo em Gomorra.

Colocando em termos mais gerais, temos assim:

Prós: Panorama completo da máfia, boa noção de seu funcionamento; envolvimento emocional do autor na medida certa; relato detalhado.

Contras: descrições desnecessárias excessivas; muitos nomes e sem recursos visuais para ajudar a compreender as relações de poder.

Avaliação geral: 4 de 5 estrelas

domingo, 24 de janeiro de 2010

Gomorra: segundas, terceiras e quartas impressões

Só um update sobre a leitura do livro. Tendo chegado à sua segunda parte, devo dizer que ele melhorou sensivelmente, bastante mesmo. A leitura está fluindo que é uma beleza.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

"Gomorra": Primeiras impressões

Comecei a ler Gomorra, o livro que escolhi para ler em janeiro no Projeto 12 livros em 12 meses. Um pouco atrasada, é verdade: esqueci completamente que tinha duas provas de concurso público marcadas para este mês, tendo que desviar o tempo de leitura para os estudos. Enfim, antes tarde do que nunca e peguei Gomorra para ler no dia 14, mais ou menos.

Gomorra é o livrorreportagem de um jornalista que se infiltrou na máfia italiana, a Camorra. Bom, eu adoro livrorreportagem, o assunto máfia me interessa (adoro filme de mafioso, pelo menos), então havia tudo para eu gostar do livro, certo?

Pois é. Mas a verdade é que estou me arrastando na leitura, muito pelo excesso de descrições do autor em determinadas passagens. Sem sacanagem: ele passa um capítulo quase que inteiro descrevendo o Porto de Nápoles. E se repetindo, claro, porque a descrição rende vááárias páginas. "Tá, eu já entendi que o Porto de Nápoles é isso e assado! Vamos agora ao que interessa?" é o que vem à mente do leitor neste momento.

Nas páginas seguintes, ele até melhora, entra na história de como ele virou estivador e braço direito de um chinês com ligações com a máfia italiana. Mas, de vez em quando, cai de novo no tique descritivo: numa hora, foram umas duas páginas descrevendo uma estrada! Sim, uma es-tra-da!

Só sei que, para um livro sobre a máfia, ele está surpreendentemente chato. Vamos ver se melhora com o correr dos dias...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

SOS Haiti

Situação terrível e inimaginável a da população do Haiti. O país já detém o título nada honroso de ser o mais pobre das Américas e, ainda por cima, acontece uma desgraça dessas, sem aviso nem porquê. É igual chutar cachorro morto.

Infelizmente, com a distância, há pouco que se pode fazer materialmente, a não ser contribuir para que esse país se reconstrua e saia um pouco melhor dessa tragédia toda - e foi o que fiz hoje. Sei que não é muito, mas penso sempre na história do beija-flor contada por Betinho e tento fazer a minha parte, mesmo que minimamente.

Então, a quem interessar possa: a Embaixada do Haiti no Brasil está recolhendo doações em dinheiro para a reconstrução do país. A conta-corrente é a seguinte:

Banco do Brasil
C/C 91000-7
CNPJ 04170237/0001-71

sábado, 9 de janeiro de 2010

O guarda-chuva

São as pequenas coisas que observamos no cotidiano o que nos faz perder completamente a fé na humanidade, de que ela pode se regenerar.

Essa semana, estava no ônibus voltando para casa (foi o dia que teve aquele temporal de verão), sentada ao lado de um homem que dormia desde que eu entrei no ônibus. Lá pelas tantas, numa curva mais acentuada do veículo, um guarda-chuva preto rolou de debaixo do banco para o corredor do ônibus e lá ficou, bem no meio do caminho.

Eu estava lendo e, como estava vendo tudo com uma visão periférica (e dispersiva, ainda por cima) não tinha absoluta certeza de que o guarda-chuva tinha vindo do banco em que eu estava. Uma menina o pegou, perguntou se era meu e fez o mesmo com os passageiros ao redor. Como ninguém confirmasse a propriedade do guarda-chuva, achamos que era do moço que estava mesmo ao meu lado, dormindo a sono solto. Ninguém quis acordá-lo, então a menina ficou segurando o guarda-chuva, esperando-o acordar para devolvê-lo.

Só que ela iria saltar no ponto seguinte; então, deixou o guarda-chuva no banco vazio ao lado de uma outra moça e saiu. De rabo de olho, percebi que a moça pegou o guarda-chuva e ficou segurando, como se avaliasse o seu estado. Não me liguei muito nesse gesto e continuei a minha leitura.

No outro ponto, essa moça desceu; fato a que não dei maior importância, a não ser a possibilidade de sentar no banco da janela que ela havia deixado vago. Qual não foi minha surpresa ao ver que o guarda-chuva não estava mais no banco ao lado, esperando o seu dono! A moça simplesmente resolveu se apossar de um guarda-chuva que não era seu, no melhor estilo "achado não é roubado".

Mais adiante, o homem finalmente despertou e começou a procurar o guarda-chuva que, de fato, era dele. Mas já era tarde: alguém já havia levado. Perdeu, perdeu.

Esse é o estado de coisas aqui no Rio e, quiçá, no Brasil. Foi ao vento, perdeu o assento. Depois essas mesmíssimas pessoas reclamam da corrupção em Brasília... O código de ética brasileiro é realmente muito maleável, vai ao sabor das conveniências.