**** SPOILERS ****
O estilo de escrita de Virgínia é o mesmo que encontrei ao ler Mrs. Dalloway, sem dúvidas: o "flanar narrativo" está lá, presente. Só não é tão intenso como em Mrs. Dalloway porque não acompanha vários personagens quase que simultaneamente, mas apenas se debruça sobre a vida de Orlando.
Tilda Swinton como Orlando, na adaptação cinematográfica da obra.
Quanto ao enredo, é interessante como Orlando encara com naturalidade a transição para o sexo feminino, como se já soubesse o tempo todo que isso iria acontecer: tudo é muito trivial, fleumático, british. A forma como Orlando contempla a vida não muda com o sexo, então é curioso pensar que, fora a metamorfose física, ele continua o mesmo ser humano na essência. Embora a própria Virgínia tenha tentado pontuar justamente o contrário, que a mudança de sexo alterou a visão de Orlando, não foi bem isso que senti ao ler o romance. Então, pensando nesse aspecto, a história não atingiu o seu objetivo - ou cobriu um outro inteiramente diferente, tipo "mirou em um e acertou em outro".
Vale pontuar que a leitura foi facilitada enormemente pelo fato de a tradução ser de Cecília Meireles: o texto está um primor e, acredito, não deve estar muito distante do próprio original.
No geral, classifico como três de cinco estrelas porque é inevitável a comparação com Mrs. Dalloway e, dessa forma, Orlando é uma obra inferior quando comparada.
Trecho a destacar: toda a parte em que Virgínia Woolf escreve o parto do filho de Orlando é maravilhosa.