domingo, 21 de fevereiro de 2010

Resenha: "Orlando"

Meu primeiro e único contato com a literatura de Virginia Woolf até hoje havia sido Mrs. Dalloway - que cheguei a comentar com certa frequência no bloguito antigo. Para o Projeto 12 livros em 12 meses, resolvi arriscar em fevereiro a história de Orlando, o nobre inglês praticamente imortal que é homem na primeira parte do livro, e se transforma em mulher na outra metade.

**** SPOILERS ****

O estilo de escrita de Virgínia é o mesmo que encontrei ao ler Mrs. Dalloway, sem dúvidas: o "flanar narrativo" está lá, presente. Só não é tão intenso como em Mrs. Dalloway porque não acompanha vários personagens quase que simultaneamente, mas apenas se debruça sobre a vida de Orlando.

 
Tilda Swinton como Orlando, na adaptação cinematográfica da obra.

Quanto ao enredo, é interessante como Orlando encara com naturalidade a transição para o sexo feminino, como se já soubesse o tempo todo que isso iria acontecer: tudo é muito trivial, fleumático, british. A forma como Orlando contempla a vida não muda com o sexo, então é curioso pensar que, fora a metamorfose física, ele continua o mesmo ser humano na essência. Embora a própria Virgínia tenha tentado pontuar justamente o contrário, que a mudança de sexo alterou a visão de Orlando, não foi bem isso que senti ao ler o romance. Então, pensando nesse aspecto, a história não atingiu o seu objetivo - ou cobriu um outro inteiramente diferente, tipo "mirou em um e acertou em outro".

Vale pontuar que a leitura foi facilitada enormemente pelo fato de a tradução ser de Cecília Meireles: o texto está um primor e, acredito, não deve estar muito distante do próprio original.

No geral, classifico como três de cinco estrelas porque é inevitável a comparação com Mrs. Dalloway e, dessa forma, Orlando é uma obra inferior quando comparada.

Trecho a destacar: toda a parte em que Virgínia Woolf escreve o parto do filho de Orlando é maravilhosa.