domingo, 31 de janeiro de 2010

Resenha: "Gomorra"

Acabei esperando o último dia do mês para poder escrever a resenha de Gomorra, de Roberto Saviano, livro que me propus a ler em janeiro para o "Projeto 12 livros em 12 meses". Como os posts abaixo atestam, tive um pouco de dificuldade no início da leitura pela descrição excessiva em algumas passagens, o que melhorou consideravelmente no decorrer do livro. Falo, agora, de outros aspectos positivos e negativos da obra.

O livrorreportagem de Saviano é um dossiê completo sobre a máfia napolitana Camorra, e desmistifica muitas imagens que fazemos dos mafiosos - culpa dos filmes hollywoodianos, evidentemente. Para seus integrantes, a máfia é encarada como um empreendimento, um grupo empresarial que atua em vários ramos. Contam, é claro, com um braço armado cada vez mais potente, mas os fins gerais são sempre o lucro e o crescimento. Envolvem-se na venda de desde armas e drogas até roupas de marca falsificadas e empreendimentos imobiliários. Eles têm alcance em governos municipais, estão basicamente por toda parte, conforme conta o relato minucioso de Saviano.

Cena do filme "Gomorra", adaptação do livro.

Só que esse relato minucioso trouxe um grande problema: são muitas "famílias", muitos clãs, localidades, nomes. É fácil se perder nas descrições, e o livro peca muito em não contar com infográficos, tabelas e outros recursos visuais que ajudassem a visualizar as relações de poder dentro das famílias, as rotas de venda de drogas e armas, etc.

O fato de o autor ter nascido e sido criado em Nápoles contribuiu muito para que a narrativa não ficasse distanciada, jornalística demais. Há emoção envolvida na medida certa, de forma que também não beire o pieguismo. Isso, realmente, é um ponto muito positivo em Gomorra.

Colocando em termos mais gerais, temos assim:

Prós: Panorama completo da máfia, boa noção de seu funcionamento; envolvimento emocional do autor na medida certa; relato detalhado.

Contras: descrições desnecessárias excessivas; muitos nomes e sem recursos visuais para ajudar a compreender as relações de poder.

Avaliação geral: 4 de 5 estrelas

domingo, 24 de janeiro de 2010

Gomorra: segundas, terceiras e quartas impressões

Só um update sobre a leitura do livro. Tendo chegado à sua segunda parte, devo dizer que ele melhorou sensivelmente, bastante mesmo. A leitura está fluindo que é uma beleza.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

"Gomorra": Primeiras impressões

Comecei a ler Gomorra, o livro que escolhi para ler em janeiro no Projeto 12 livros em 12 meses. Um pouco atrasada, é verdade: esqueci completamente que tinha duas provas de concurso público marcadas para este mês, tendo que desviar o tempo de leitura para os estudos. Enfim, antes tarde do que nunca e peguei Gomorra para ler no dia 14, mais ou menos.

Gomorra é o livrorreportagem de um jornalista que se infiltrou na máfia italiana, a Camorra. Bom, eu adoro livrorreportagem, o assunto máfia me interessa (adoro filme de mafioso, pelo menos), então havia tudo para eu gostar do livro, certo?

Pois é. Mas a verdade é que estou me arrastando na leitura, muito pelo excesso de descrições do autor em determinadas passagens. Sem sacanagem: ele passa um capítulo quase que inteiro descrevendo o Porto de Nápoles. E se repetindo, claro, porque a descrição rende vááárias páginas. "Tá, eu já entendi que o Porto de Nápoles é isso e assado! Vamos agora ao que interessa?" é o que vem à mente do leitor neste momento.

Nas páginas seguintes, ele até melhora, entra na história de como ele virou estivador e braço direito de um chinês com ligações com a máfia italiana. Mas, de vez em quando, cai de novo no tique descritivo: numa hora, foram umas duas páginas descrevendo uma estrada! Sim, uma es-tra-da!

Só sei que, para um livro sobre a máfia, ele está surpreendentemente chato. Vamos ver se melhora com o correr dos dias...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

SOS Haiti

Situação terrível e inimaginável a da população do Haiti. O país já detém o título nada honroso de ser o mais pobre das Américas e, ainda por cima, acontece uma desgraça dessas, sem aviso nem porquê. É igual chutar cachorro morto.

Infelizmente, com a distância, há pouco que se pode fazer materialmente, a não ser contribuir para que esse país se reconstrua e saia um pouco melhor dessa tragédia toda - e foi o que fiz hoje. Sei que não é muito, mas penso sempre na história do beija-flor contada por Betinho e tento fazer a minha parte, mesmo que minimamente.

Então, a quem interessar possa: a Embaixada do Haiti no Brasil está recolhendo doações em dinheiro para a reconstrução do país. A conta-corrente é a seguinte:

Banco do Brasil
C/C 91000-7
CNPJ 04170237/0001-71

sábado, 9 de janeiro de 2010

O guarda-chuva

São as pequenas coisas que observamos no cotidiano o que nos faz perder completamente a fé na humanidade, de que ela pode se regenerar.

Essa semana, estava no ônibus voltando para casa (foi o dia que teve aquele temporal de verão), sentada ao lado de um homem que dormia desde que eu entrei no ônibus. Lá pelas tantas, numa curva mais acentuada do veículo, um guarda-chuva preto rolou de debaixo do banco para o corredor do ônibus e lá ficou, bem no meio do caminho.

Eu estava lendo e, como estava vendo tudo com uma visão periférica (e dispersiva, ainda por cima) não tinha absoluta certeza de que o guarda-chuva tinha vindo do banco em que eu estava. Uma menina o pegou, perguntou se era meu e fez o mesmo com os passageiros ao redor. Como ninguém confirmasse a propriedade do guarda-chuva, achamos que era do moço que estava mesmo ao meu lado, dormindo a sono solto. Ninguém quis acordá-lo, então a menina ficou segurando o guarda-chuva, esperando-o acordar para devolvê-lo.

Só que ela iria saltar no ponto seguinte; então, deixou o guarda-chuva no banco vazio ao lado de uma outra moça e saiu. De rabo de olho, percebi que a moça pegou o guarda-chuva e ficou segurando, como se avaliasse o seu estado. Não me liguei muito nesse gesto e continuei a minha leitura.

No outro ponto, essa moça desceu; fato a que não dei maior importância, a não ser a possibilidade de sentar no banco da janela que ela havia deixado vago. Qual não foi minha surpresa ao ver que o guarda-chuva não estava mais no banco ao lado, esperando o seu dono! A moça simplesmente resolveu se apossar de um guarda-chuva que não era seu, no melhor estilo "achado não é roubado".

Mais adiante, o homem finalmente despertou e começou a procurar o guarda-chuva que, de fato, era dele. Mas já era tarde: alguém já havia levado. Perdeu, perdeu.

Esse é o estado de coisas aqui no Rio e, quiçá, no Brasil. Foi ao vento, perdeu o assento. Depois essas mesmíssimas pessoas reclamam da corrupção em Brasília... O código de ética brasileiro é realmente muito maleável, vai ao sabor das conveniências.