terça-feira, 26 de abril de 2011

Nomes de pobre

- Onde já se viu, um crioulinho desse chamado Matteo!?

A própria senhora que proferira essas palavras era negra, mas deixemos de lado o termo pejorativo e racista: não é do que trata esse texto. Na verdade, trata-se de coisa mais banal: essa diferença que inventaram (ou que se inventou) entre nomes de pobre e nomes de rico.

Vamos contextualizar a frase da senhora: eu trabalhava como voluntária em um projeto social que ensinava artesanato para gestantes carentes durante os sábados. Eram cursos de seis meses de duração, de forma que as mães iam tendo os bebês, mas precisavam continuar a frequentar as aulas. Como faziam, então? Havia um berçário em que voluntárias tomavam conta dos bebezinhos, enquanto as mães aprendiam. Eu era uma voluntária, assim como a senhora do início da história. O menininho que se chamava Matteo era filho de uma das alunas do projeto.

* E de onde veio esse nome? Vocês hão de lembrar, não me deixem com pecha de velha: havia uma novela na Globo cheia de italianos, Terra Nostra, em que o casal protagonista chamava-se Giuliana e Matteo. Daí o nome do pequenino. Não sei se isso se aplica hoje, mas naquela época as novelas ditavam a moda na hora de escolher o nome do rebento. Quando Terra Nostra passou no horário das oito, o berçário teve três Matteos e duas Giulianas. Numa novela ainda mais antiga, havia um personagem chamado Iago. Foi lá a mãe e pespegou esse nome de traíra no filhinho (não adianta, depois que li Otelo, nunca mais tive simpatias pelo nome).

* Eu lembro também de um menininho negro, bem pequeno e de pernas arqueadas, uma graça. O nome: John Lennon. Tinha mais dois irmãos com nomes do mesmo quilate, mas não me recordo agora. Só lembro do John Lennon, porque era o que ficava sob meus cuidados. Eu sentia uma vontadezinha de rir toda vez que  o chamava, porque sempre lembrava dos Beatles e me sentia meio boba. Ah, na mesma turma do John Lennon tinha também o Djou-djou (esse eu nem sei como escreve. Achei que era apelido, até confirmar com a mãe que era nome, mesmo).

* Uma vez, enquanto esperava na fila do supermercado, ouvi a mãe chamando a filhinha, que corria solta pelos corredores: "Brendaline!". Não sei se o nome da criança era Brendaline ou Brenda Aline. De uma forma ou de outra, vocês hão de convir que é um primor.

* O fato é que esses nomes mais diferentes viraram "nome de pobre". E preciso fazer uma confissão: apesar de não cogitar um nome desses para um filho meu, acho interessantíssima a criatividade desses pais e a história por trás de cada nome (sei que é fácil achar interessante quando não sou eu quem está recebendo um nome desses! rs).

* Taí, era essa a palavra mesmo que eu queria para definir essa história: criatividade. Enquanto os pobres esbanjam criatividade com Johns Lennons e Brendalines, no meu Facebook vejo que amigos de amigos preparam-se para ter a trigentésima Alice, o milésimo-segundo Gabriel. Como foi que, de repente, ficou chique ter um monte de gente com o nome igual?

domingo, 3 de abril de 2011

O vício das unhas pintadas

O vício começou bem de mansinho. Aliás, a bem da verdade, nem parecia vício, no que ele tem de inebriante e avassalador. Na loja, uma fileira imensa de vidrinhos coloridos me olhava, convidativa. Expostos na mesma disposição das cores do espectro do arco-íris, eram mesmo muito lindos de se olhar. Mas, comedida, peguei apenas um vidrinho violeta e fui embora.

Meses depois, lembrando de que adoro a cor laranja, entrei nas Americanas e resolvi comprar um vidrinho dessa cor. Acabei descobrindo, também, um conjunto com cinco vidros, incluindo um azul escuro e um verde escuro lindíssimos e que eu nunca tinha visto igual. Comprei também.

Agora, não há como olhar para minhas mãos e não ver as pontas dos dedos coloridos. Na maioria das vezes não consigo nem esperar que as cores se esmaeçam nos dedos e vão naturalmente embora: tiro logo para experimentar novas tonalidades e combinações.

Nem pareço a mesma que, no ano anterior inteiro, havia pintado as unhas apenas uma vez - e mesmo assim porque ia a um casamento no qual era a madrinha.

Agora que o vício das unhas pintadas parece ter entrado numa estabilização (tenho comprado mais espaçadamente), parece que um outro começa: ontem descobri que estou sem maquiagem decente e comprei um conjunto de sombras e um pó compacto.

Seria a crise dos 30 anos se aproximando?