quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Balanço e Planejamento Estratégico

Não sei se isso é cacoete brabo de working girl (provável que sim, rs), mas já há algum tempo tenho definido planejamentos para a minha vida, determinando onde gostaria de estar daqui a dois, três anos. Como todo planejamento estratégico, ele é revisado de ano em ano. Vejamos como ficou o meu planejamento de 2009:

  • Quitar minha casa - Não cheguei lá, mas estou bem perto disso (ainda bem)
  • Mudar de emprego - Feito.
  • Passar um mês na Itália - Adiado para 2010
  • Terminar a pós - Já entreguei a monografia, então estou quase lá também.
  • Ler mais livros - Consegui ler mais do que em 2008 (o que não foi nenhuma dificuldade, já que li pouquíssimo no ano passado).
Agora, meu planejamento para 2010:

  • Passar um mês na Itália - Oxalá!
  • Quitar e alugar minha casa - Uma grande possibilidade.
  • Passar em um concurso público - essa tal de estabilidade está me atraindo cada vez mais.
  • Começar um MBA, mestrado ou uma nova graduação - Estou sentindo falta de estudar, encontrar pessoas, debater ideias...
  • Ler mais livros - A lista está gigante...
Será esse um planejamento factível? Que venha 2010 para colocá-lo à prova...

    segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

    Filme: Eu odeio o Dia dos Namorados

    É, bem que eu gostei desse título. Eu também odeio o Dia dos Namorados e a "obrigação" que ele sempre traz a qualquer mortal: quem está em um relacionamento, tem que comprar um presente, e, quem é solteiro, tem que ficar explicando zilhões de vezes que não vai morrer nem se desintegrar ao passar por essa data desacompanhado. É, realmente, um saco, e aí me deparei com essa comédia romântica com a Nia Vardalos e o John Corbett.

    Eu adorei o Casamento grego e achei que a química entre os dois atores, naquele filme, foi excelente. Por isso, me preparei de corpo e alma para ver uma deliciosa comédia romântica com gosto de dia chuvoso, coberta e brigadeiro de colher. Só que... O FILME É UMA MERDA.

    Vamos aos motivos desse desabafo em caixa alta:

    1) O título é uma enganação. Para começar, o título está errado. A personagem principal não odeia o Dia dos Namorados! Como florista, Genevieve, a personagem da Nia Vardalos, a-do-ra essa data, obviamente: é o momento de maior rendimento da sua loja.

    2) Amigos gays estereotipados. Claro que, no mundo do terceiro milênio, mulher moderna que é mulher moderna tem que ter seu melhor amigo gay a tiracolo. Genevieve não tem apenas um, mas dois amigos gays! Um casalzinho! Que trabalha numa floricultura! Parece que resolveram jogar todos os estereótipos de gays numa panela, mexeram, e de lá saíram esses personagens.


    "Oh, meu Deus, eu sou um estereótipo!"

    3) Nia Vardalos não sabe atuar. Estou começando a achar que Casamento grego foi mais um documentário do que ficção. Afinal, uma pessoa que trabalhou tão bem nesse filme, não pode ser a completa debilóide-que-ri-de-tudo que aparece em Eu odeio o Dia dos Namorados. Não dá para acreditar. Genevieve só fala sorrindo e com os olhos arregalados, como se estivesse chapada o tempo todo - ou como se estivesse à beira de um surto psicótico. Medo, muito medo.

    4) História fraca. Esse é o problema de nove entre dez comédias românticas, é verdade. Mas, nas comédias românticas medianas, que cumprem o seu papel, isso sempre acaba sendo superado por um fator primordial: o carisma do casal principal, que é o problema número...

    5) Química zero. Infelizmente, a química entre Nia Vardalos e John Corbett não rolou nesse filme. Toda vez que os dois estavam juntos, eu ficava com medo da Genevieve ter um surto e começar a metralhar todo mundo.

    6) Acho que já chega, né? Já há motivo suficiente para correr deste filme. Depois não digam que não avisei...

    domingo, 13 de dezembro de 2009

    Música: Nick Drake

    Apesar de Nick Drake não ser um nome muito conhecido no Brasil, é provável que muitas pessoas, sem saber, tenham ouvido algumas de suas músicas em algum filme. Os milhões de espectadores de A casa do lago, por exemplo, podem não ter se tocado que a bela música que embala um momento melancólico de Keanu Reeves na casa do título é justamente Pink Moon, uma das obras-primas de Drake.

    Biografia

    O inglês Nicholas Rodney Drake, que hoje é referência na música folk com suas composições belas e melancólicas, na verdade teve uma história de vida triste e sem qualquer reconhecimento. Sua curta discografia, de apenas três albuns - Five leaves left, Bryter Layter e Pink Moon - não teve a receptividade que sua genialidade merecia. Conta a lenda que a derrocada na venda dos discos foi tão acentuada que, após a conclusão do último album (que ele gravou sozinho, em duas noites, acompanhado apenas pelo engenheiro de estúdio), Nick Drake entregou as fitas-mestre no balcão da gravadora, colocou-as junto a uma recepcionista e saiu sem falar com ninguém. As fitas ficaram lá durante duas semanas, até que alguém as percebesse.

    Portador de depressão clínica, Nick Drake jogava em suas músicas todas as angústias que os remédios não davam jeito. O resultado são canções belas demais para caber em qualquer peito, qualquer mente - e talvez por isso a geração anos 70, solar, floral, cheia de perspectivas, não tenha digerido muito bem isso.

    Nick Drake era uma pessoa contraditória: apesar de sonhar com o sucesso como cantor, não conseguia se conectar com seu público e se recusava a participar de qualquer ação promocional. Segundo relatos, nos poucos shows que se propôs a fazer, mal dirigiu duas palavras ao público, parava o concerto muitas vezes para afinar o instrumento para tocar a próxima música. E foi assim, sem o sucesso que almejava, que o cantor-violonista-compositor suicidou-se acidentalmente em 25 de novembro de 1974, com apenas 26 anos.

    O álbum preferido


    Minha obra preferida do Nick Drake é justamente o último disco, Pink Moon, todo feito apenas em violão (exceção da faixa-título, que tem também um piano, tocado por ele).  Na primeira vez em que ouvi essas músicas, não pude tirar da cabeça a beleza crua de tudo aquilo, a poderosa força que invadia meu coração e fazia com que ele ficasse três vezes mais pesado (mais ou menos como o Grinch no Natal). Era tudo lindo demais para ser suportado, e sucumbi. Mas era um desabafo bom, que me fez bem, e eu quis ouvir mais. Quando escutei seu álbum mais trabalhado, Bryter Layter, me deparei com a maravilha que é Northern Sky e desejei muito que aquela música tivesse sido feita para mim.

    Mais, não direi: porque falar sobre a música de Nick Drake é tentar explicar o que é Picasso, Van Gogh, Dali - não tem explicação, apenas coração. Ouçam e tentem me compreender:

    Nick Drake na Last.fm

    sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

    Filme: 500 dias com ela

    Como qualquer mulher "normal", eu adoro uma comédia romântica - embora, reconheço, a fórmula normalmente usada esteja bem batida e a maioria dos filmes que saem no mercado seja bem abaixo da média. Mas 500 dias com ela (500 days of Summer, no original) não é uma comédia romântica como as outras.

    Para início de conversa, quem é o personagem principal é um homem. Tom Hansen (Joseph Gordon-Levitt), um arquiteto por formação que, por uma dessas coisas da vida, acaba preso anos a um trabalho como redator de cartões comemorativos, é um cara introvertido e romântico, que acredita piamente que um dia encontrará sua alma gêmea. Eis que seu chefe contrata como secretária Summer Finn (Zooey Deschanel, no seu milésimo papel como uma destrambelhadinha), uma moça de espírito livre e que não gosta de se sentir presa a um relacionamento. Tom, é claro, cai de quatro por Summer, e o filme inteiro é uma sequência de flashbacks e fast-forwards de como o relacionamento entre os dois (como amigos, amantes, etc) se desenrola no decorrer dos tais 500 dias do título.


    E não é que ela adora The Smiths?

    Estamos sempre acompanhando Tom em sua busca por entender como funciona o mundo de Summer. Com dois amigos tão disfuncionais em relacionamento quanto ele, só resta a Tom recorrer à precoce irmã de 12 anos para pedir conselhos amorosos. Algumas das cenas mais engraçadas do filme se dá justamente quando ele dialoga com esse núcleo.

    Destaco também a ótima trilha sonora, composta por The Smiths, Simon & Garfunkel, Feist, Regina Spektor, Carla Bruni (é, a primeira-dama francesa), entre outros.

    Avaliação? Eu absolutamente adorei esse filme! Muito, muito divertido, inteligente e, acima de tudo, refreshing (infelizmente não encontro um equivalente em português para essa palavra).

    Para ver o trailer do filme, é só clicar aqui.

    quinta-feira, 26 de novembro de 2009

    Tem que ficar trancado em casa

    Entrei no G1 e achei a notícia inusitada: uma reportagem do RJTV sobre um rapaz que foi assaltado dentro de uma academia, enquanto fazia esteira.

    O assaltante fingiu ser um potencial aluno e pediu à recepcionista para conhecer a academia por dentro. Pedido aceito, ele entra e aponta a arma para o peito de um rapaz enquanto este ainda estava correndo na esteira. O assaltado, sem parar nenhum momento de correr, entregou seu cordão e o bandido fugiu.

    O caso já é surreal por si só, mas pior ainda é o que veio a seguir. A apresentadora do telejornal, Ana Paula Araújo, chama o comentarista de Segurança do RJTV, o Rodrigo Pimentel (ex-capitão do Bope, autor de "Elite da tropa" e roteirista de "Tropa de Elite") para comentar o assalto. Ela diz: "O que mais me chamou a atenção é que o rapaz teve muito sangue frio de continuar a fazer o exercício mesmo sendo assaltado". Pimentel, é claro, concorda: "Ele manteve a calma, e é o que deveria mesmo fazer". Mas completa: "O que não deveria ter feito é levar um cordão de ouro para malhar numa academia, acho pouco razoável".

    Após ele ter dito esse absurdo, Ana Paula revida (mesmo que com um pouco de delay): "Na verdade, a pessoa tem o direito de usar qualquer coisa em qualquer lugar, né?"

    Confesso que não gosto muito da Ana Paula Araújo, mas ela foi minha heroína aí. Tudo agora no Rio é culpa da vítima, pô?!

    terça-feira, 24 de novembro de 2009

    A banheira

    Não foi dica de beleza, nem recomendação médica: o fato de eu agora ficar de bobeira na banheira aqui em casa tem a ver com esse calorão todo que vem fazendo no Rio. É que descobri a forma mais econômica de se refrescar quando está muito quente: em vez de ligar o ventilador ou (pior) o ar-condicionado, o melhor é ficar de molho, que nem bacalhau, na banheira.

    É uma banheira velha, muito antiga e encardida, que tem no banheiro do meu apartamento (que, aliás, também é antigo). Demorei muito a descobrir seu uso fabuloso: sempre preferi tomar uma ducha gelada e deitar na cama, debaixo do ventilador, com a boca aberta de tanto calor. Um dia, acordei num espírito de Dona Beija e resolvi tomar banho de banheira (só faltou mesmo o leite de cabra). Que maravilha! Não há coisa melhor! E ainda por cima, dá pra fazer várias coisas: estudar, ler, até ver filmes no laptop - que mantenho a uma distância segura da banheira, claro.

    Aí me lembrei de um episódio do Seinfeld em que o Kramer resolve ficar direto no banho, e até passa a cozinhar debaixo do chuveiro. Juro que não cheguei a esse nível... Mas se houvesse um meio seguro de navegar a internet de dentro da banheira, eu estaria postando de lá agora mesmo!

    sábado, 14 de novembro de 2009

    A papelaria

    Acho muito engraçado viver hoje no mesmo bairro em que morei até os 10 anos de idade, porque as mudanças dos arredores do bairro sempre me saltam mais aos olhos do que se eu simplesmente tivesse vivido minha vida inteira aqui. Ruas que abrem, se alargam, casas que dão lugar a prédios de apartamentos cada vez mais altos e com mais gente. Mas nada chama mais a atenção do que o comércio de bairro, essa instituição que sempre achamos estar com os dias contados por causa do poderio dos shopping centers - isso até a gente precisar de um pão, uma caixa de fósforo e descobrir que aquela mercearia da esquina vai muito bem, obrigado.

    Estou pensando nisso porque passei em frente a um local muito importante na minha infância: a papelaria/bazar Elianita. Era uma loja pequenérrima, bem espremidinha mesmo, mas com tudo o que você conseguia imaginar de papelaria, e até mesmo algumas opções de presente. Foi lá a primeira vez que comprei uma boneca para mim, com o dinheiro que consegui economizar da mesada, entre uma visita e outra na carrocinha de doces que passava na minha rua. Era lá também que íamos com mamãe para comprar a reposição do material escolar em julho (canetinhas e lápis de cor nunca duram o ano todo, né?).

    A loja pertencia a um casal de senhores (já eram idosos quando eu era criança, imaginem agora), e o nome da papelaria vinha do nome da filha deles. Lembro que fiquei muito surpresa quando voltei ao Rio para estudar na faculdade e vi que a Papelaria Elianita ainda estava lá, de pé - um pouco castigada, um pouco mais vazia de clientes, mas ainda lá, firme e forte. Só que isso não durou muito: há coisa de dois anos, a Elianita finalmente sucumbiu e o ponto comercial virou uma franquia da Empada Carioca. Vida que segue.

    Mas quis o destino que uma loja vagasse bem ao lado da antiga Elianita (agora Empada Carioca) e, como uma ressurreição, eis que abre uma papelaria/bazar no mesmo estilo da antecessora. Não sei se são os mesmos donos (o que duvido, por causa da idade), mas é bom ver surgir esse tipo de comércio que pensei ter morrido para sempre...

    domingo, 8 de novembro de 2009

    Cartazes II

    Para realizar seus ensaios gerais, o coral da minha empresa costuma tomar emprestado o salão de uma ONG que ajuda na recuperação de viciados em drogas. Um amigo chamou a atenção para esse cartaz, que estava afixado lá:



    A piada geral: quais seriam as drogas adotadas no Curso Introdutório de Dependência Química? Maconha, analgésicos, cola de sapateiro...

    sábado, 7 de novembro de 2009

    Overdose de Caetano

    Juro que não aguento mais: essa mania de consultar o Caetano Veloso para todo e qualquer assunto já encheu os pacová. Essa semana, então, não teve precedentes: foi uma overdose de Caetano Veloso na imprensa de dar nojo.

    Primeiro, publicam uma entrevista do Caetano a um jornal paraibano em que ele diz que não gosta do Woody Allen. E daí? Woody Allen certamente deixou de dormir direito na noite em que leu que Caetano não gosta de sua obra cinematográfica! (Um parêntesis: Caetano chama o cineasta, entre outras coisas, de "careta". Nossa, tem coisa mais careta hoje em dia do que chamar alguém de careta? Alguém por favor vai correndo avisar ao Caetano que a década de 1970 já acabou faz tempo...)


    Eu sei de tudo. Ou não.

    Depois, o Estado de S. Paulo entrevista Caetano com exclusividade. Ele fala de tudo: política, segurança pública, invasões extraterrestres, teorias matemáticas, a fórmula da cura da gripe suína, como solucionar a fome no mundo e o que mais os jornalistas se animem a perguntar. Ele opina sempre, mesmo que não tenha o menor conhecimento do que está falando: Caetano gosta é de palpitar mesmo. Mas, nessa entrevista, o que foi divulgado aos quatro cantos foi quando ele chama Lula de "analfabeto". Tá. E daí? Não foi o primeiro nem o último a fazer isso. Além do mais, que coisa mais infantiloide. Daqui a pouco, as declarações serão assim: "Caetano diz que Lula é bobo e tem cara de mamão".

    E aí, quando já achamos que estamos livres dessa caetanarada toda, eis que ele ainda ganha o Grammy Latino por "Zii e Zie". Como diria Galvão Bueno, haja coração!

    quinta-feira, 29 de outubro de 2009

    Sem nome

    São nove horas da noite. Volto para casa de ônibus. Estou cansada, minhas pernas doem, meus olhos ardem: tudo que quero é descansar.

    O ônibus para em um sinal e, vindo do nada, um menino se alinha às janelas do veículo. Pequeno, magro, chinelinhos que mal protegem os pés imundos. Seus olhos suplicam, ele ergue as mãos, pede um trocado.

    Fecho os olhos. Não quero ver, não quero sentir, fecho os olhos porque estou cansada, minhas pernas doem, meus olhos ardem e quero chegar em casa, oh, como eu quero chegar em casa!

    Abro os olhos e o truque de mágica se concretizou. O menino desapareceu, como que dissolvido pela garoa fina que caía. E senti a humanidade morrer dentro de mim.

    segunda-feira, 26 de outubro de 2009

    Pra que horário de verão?

    Já faz uma semana que entramos no horário de verão, e o que tenho pensando constantemente é como ele só tem me ferrado...

    Primeiro: meu dia nunca parece render. Eu penso: "nossa, ainda está claro, está cedo" e quando olho no relógio, bam! Já são quase 19h. Isso sem contar no ajuste ao horário, que não aconteceu até hoje: acordo atrasada de manhã e não consigo dormir cedo à noite, indo pra cama bem depois da meia-noite.

    Segundo: para que eu quero que o dia dure mais? O papo geral é: "ah, mas dá pra pegar ainda uma prainha depois do trabalho". Aqui no Rio, isso só faz sentido se você trabalha perto da orla. Eu moro e trabalho na zona norte, portanto, não dá tempo é pra nada: é só uma hora a mais de sol na cuca até chegar em casa.

    Bem, até agora listei razões muito fortes para detestar o horário de verão. E o negócio é que se dá justo o contrário: eu adoro horário de verão! "WTF?", diriam vocês. Por que gostar de um negócio desses?

    O lance é que dá aquela sensação de "aproveitamento do dia" quando saio do trabalho às 17h e ainda está sol. Parece que o dia ainda está cheio de possibilidades, parece que tem 48 em vez de 24 horas (embora, como expliquei no primeiro item, a realidade é bem ao contrário). Vai ver que é o indicativo de que o ano está acabando, as festas de fim de ano estão chegando e também as férias de janeiro (o que pra mim não faz nenhum sentido, porque não tiro férias há cinco anos). Ou então porque acabo participando do ilusionário coletivo de que o horário de verão é lindo e maravilhoso.

    Realmente, esse é um grande mistério: por que eu gosto de horário de verão, mesmo?!

    domingo, 18 de outubro de 2009

    Livro: "Cartas do front"

    Então eu consegui terminar de ler Cartas do front, que comprei na Bienal. Demorou, mas foi - além de ler beeem devagar, quase duas páginas por dia (ou melhor, noite, porque leio antes de dormir), fiz digressões para ler Caçada ao maníaco do parque (livro-reportagem, legalzinho) e começar A falecida, do Nelson Rodrigues.

    E o que posso dizer do livro? Recomendo com louvor, crianças. O organizador saiu mundo afora à procura de cartas escritas por soldados durante conflitos para seus familiares, amantes, amigos, além das cartas de resposta dessas pessoas que tentavam, mesmo que à distância e por papel, levantar o moral das tropas. Pensei que seria um livro pesado, triste, mas o organizador conseguiu equilibrar: tem cartas engraçadas, leves, superinteressantes, histórias de amor que deram certo (ou não). Também tem cartas tristíssimas, é claro - e engasguei várias vezes lendo o livro. Mas é um relato que ninguém deveria se furtar de ler.

    Tem um capítulo especial só com cartas dos pracinhas brasileiros que serviram durante a Segunda Guerra Mundial. Vou colocar uma aqui bem engraçadinha, enviada por Otto da Costa Soares ao irmão Walter, que estava combatendo na Europa. A carta foi escrita depois do fim da guerra, em 8 de maio de 1945:

    Prezado irmão,
    Em virtude dos últimos acontecimentos no cenário da guerra, tem sido grande, entusiástica mesmo, a alegria que reina em toda parte do Brasil.
    Aqui no Rio, o Dia da Vitória foi bem expressivo e veio encher de alegria os corações das famílias que têm representantes na FEB e cujo maior desejo sempre foi ver, de vez, o fim dessa grande tragédia que tanto feriu a humanidade.
    Agora só nos resta ver de volta aos lares os valentes soldados que souberam elevar bem alto o nome de nossa pátria.
    O assunto em foco aqui no Brasil, atualmente, são as eleições.
    Ainda bem que vocês virão todos a tempo para apreciar de perto as suas fases finais.
    Há quase um mês que não recebemos carta tua e estamos na expectativa.
    Todos aqui estão bem de saúde e enviam abraços. Mamãe manda-te muitos beijos e só pensa na tua volta...
    Festa agora aqui é mato. Quase todos os dias me aparecem convites. Pequenas aqui é mato também.
    Eu já não posso dar conta de todas elas.
    Um abraço fraterno,
    Otto Costa Soares.

    sábado, 10 de outubro de 2009

    Música: The Unicorn Ensemble

    Eu adoro história medieval e, nada mais natural, adoro a música feita nesta época. Comentei isso com um colega de trabalho (que, por acaso, é regente do coral da empresa) e ele me emprestou esse mimo: On the Way to Bethlehem, do The Unicorn Ensemble, grupo europeu especializado em Música Antiga. A proposta do álbum é selecionar músicas medievais que vão desde a Europa até o Oriente Médio, percorrendo o caminho que os cruzados e peregrinos faziam até a Terra Santa. O grupo escolheu músicas natalinas para os países cristãos e canções tradicionais, no caso dos países não-cristãos.

    O track-list é o seguinte:

    01 - Dinaresade (música tradicional síria)
    02 - Edi be thu, Heven-Queene (anônimo - Inglaterra)
    03 - Nevestinko oro (tradicional - Macedônia)
    04 - Beata progenies (Lionel Power)
    05 - Mari Stanko (tradicional - Bulgária)
    06 - Sei willekommen Herre Christ (anônimo - Alemanha)
    07 - Bog se rodi va Betleme / Koleda na Bozic / Kod Bethlehema / Koleda na Bozic (tradicionais - Croácia)
    08 - Angelus ad virginem (anônimo - Inglaterra)
    09 - Düdül (tradicional - Turquia)
    10 - La quinte Estampie real (anônimo - França)
    11 - Urbs beata Jerusalem (Guillaume Dufay)
    12 - Mevlana (tradicional - Sufi [árabe])

    A única ressalva que faço é que a lista das músicas não faz o trajeto real, saindo da Inglaterra e acabando na Arábia. Mas confesso que isso é preciosismo meu, o trabalho do Unicorn Ensemble é perfeito e esse CD é maravilhoso.

    No link que coloquei no título do CD, há um tira-gosto: as faixas Mari Stanko e La quinte Estampie real. Aproveitem!

    sábado, 3 de outubro de 2009

    Rio 2016 - E agora?

    Tá, confesso que fiquei um pouquinho feliz com a escolha do Rio para sediar as Olimpíadas - embora, no momento de suspense da leitura do envelope, meu lado sádico quisesse que o presidente do COI lesse "Madrid" só pra ver a cara dos 100 mil que estavam na praia de Copacabana.

    Mas o que será do amanhã? Obras faraônicas superfaturadas, verdadeiros sumidouros de dinheiro (que ninguém se esqueça da Cidade da Música), projetos para varrer a pobreza pra debaixo do tapete (como aquela ridícula tentativa do ex-prefeito Conde de pintar todos os barracos das favelas da zona sul em tons de verde, para camuflar na paisagem), aumento no efetivo de policiais para, um dia após o grande evento, tudo voltar a como era antes no quartel de Abrantes. Tenho medo dessa Olimpíada.

    Obs.: Numa nota diferente sobre o mesmo assunto, engraçadíssimo o vídeo do âncora da CNN que fica completamente chocado quando Chicago é eliminada logo na primeira rodada de votações. Não sei com o que ele parece mais incrédulo: com o fato de Chicago ter saído assim, de primeira, ou com o fato de Madri e Tóquio ainda permanecerem na disputa. Esses americanos...

    domingo, 27 de setembro de 2009

    Uma historinha sobre Beethoven

    O ano era 1811. Beethoven tinha 41 anos e estava cada vez mais mergulhado na surdez que, progressivamente, ia minando sua felicidade. Com a saúde abalada, atacado por grandes períodos de depressão, o grande maestro afastou-se da agitação de Viena e foi passar uma temporada na cidade de Teplice, na região da Boêmia (onde atualmente é a República Tcheca). O local, uma famosa estância mineral, era quase obrigatório para quem quisesse recuperar a saúde.

    As águas e os banhos termais de Teplice fizeram mais do que revigorar a saúde do maestro: também tiveram um efeito positivíssimo em sua criatividade. Pois foi lá que Beethoven compôs uma das peças mais lindas da sua prolífica carreira: a Sétima Sinfonia em Lá Maior. Em especial, o segundo movimento, em allegretto, que começa suave e depois explode em vigor, força, sentimento.

    Beethoven concluiu a sinfonia em 1812 e a dedicou ao Conde Moritz von Fries, banqueiro vienense colecionador de artes e que apreciava muito música. A sinfonia estreou em 1813, durante um concerto beneficente em Viena organizado em prol dos soldados hferidos na batalha de Hanau, e foi um tremendo sucesso - principalmente o segundo movimento, que, a pedido do público, teve de ser repetido.

    Eis a execução dessa peça magnífica pela Filarmônica de Berlim:

    segunda-feira, 21 de setembro de 2009

    Filme: A onda

    Nessa era de Aquarius, terceiro milênio e etc., costumamos ter uma visão meio arrogante com relação ao passado. "Como éramos selvagens", comentamos, de nariz empinado, ao ver atrocidades que não aconteceram há tanto tempo - como a Segunda Guerra Mundial, por exemplo.

    O grande enigma é: com tudo o que sabemos hoje, seria possível um ditador como Adolf Hitler ascender ao poder? Seria possível o surgimento de um regime como o nazi-fascista nesse admirável mundo novo? É esse o questionamento levantado pelo filme A onda (Die welle, 2008), produção alemã que encara corajosamente esse tema espinhoso.

    "A onda": experiência de nazismo em sala de aula

    A sinopse: Rainer é o professor de uma escola alemã, destacado pela diretoria para dar um seminário de uma semana sobre autocracia, tema que pouco o interessa - e muito menos aos alunos, terceira geração pós-guerra que já está com os pacovás cheios de ouvir falar do nazismo. Até que ele levanta a questão: "Seria possível, nos dias de hoje, haver um outro nazismo? Haver uma adesão popular tão maciça quanto foi naquela época?". Os alunos apostam que não, e o professor tem a ideia de fazer um pequeno teste: usar técnicas de persuasão nazista para conseguir a adesão dos alunos e simular uma autocracia na sala de aula. Os efeitos são surpreendentes, até mesmo para o professor.

    O filme é livremente baseado na história real de um professor americano, que implementou a mesma técnica em uma escola na década de 1960. O roteiro é bem diferente do que a história documentada pelo tal professor americano, mas serve como alerta para todos nós sobre fantasmas que já julgamos mortos e enterrados: não estão tão enterrados assim que não possamos vê-los, à nossa espreita. A possibilidade de surgir um novo nazismo é tão presente quanto nós somos humanos.

    domingo, 20 de setembro de 2009

    Poe, o escritor alemão da Idade Média

    Fazendo um tour pelos meus blogs de leitura diária, vejo um post da Raquel avisando sobre um congresso internacional que começa hoje em BH, em homenagem aos 200 anos de nascimento de Edgar Allan Poe. "Por que esse congresso não foi no Rio de Janeiro?!", foi meu primeiro pensamento.

    Eu sou apaixonada pela obra do Poe. Meu primeiro contato com ele foi na sétima série, quando a professora de português passou como livro paradidático "O Escaravelho de Ouro e outras histórias", editado pela Ática. Contém algumas das histórias horripilantes de "Histórias Extraordinárias", o livro original do Poe: "O barril de Amontillado", "O gato preto", "A queda da casa de Usher", entre outros. Lembro de ter ficado muito assustada com "O gato preto" e logo elegi "O barril de Amontillado" como meu conto favorito.

    Foi através do Poe que reacendi meu interesse por Sherlock Holmes: eu já gostava do detetive inglês por causa do jogo "Scotland Yard", da Grow, mas só fui ler os contos depois de ter conhecido o Poe, que foi o precursor do gênero policial. Sherlock é o herdeiro natural de Dupin, o detetive criado por Poe em "Os assassinatos da Rua Morgue" que, como Sherlock Holmes, recorre à dedução lógica para solucionar mistérios.

    Muito bem, mas o que isso tudo tem a ver com o título maluco desse post? Bem, o título faz referência a uma história muito engraçada que aconteceu comigo envolvendo o Poe - história essa que conto agora.

    Já adulta, ganhei de um namorado a obra completa do Poe. Na época estudante e estagiária, naquela contenção de despesas própria dessa fase da vida, adorei o presente. Eu morava no Rio e estudava e trabalhava em Niterói, gastava duas horas em transporte público para chegar do outro lado da poça. Com isso, eu lia muitos livros no ônibus e na barca, e as obras completas do Edgar Allan Poe eram perfeitas para esse propósito: como era um tomo único (e de dimensões pequenas também), podia levá-lo para ler no caminho para o trabalho.

    Num desses dias de leitura no ônibus, um rapaz que vinha a meu lado resolveu puxar conversa:

    "Poxa, você gosta mesmo de ler, né? Não largou esse livro nem por um instante..."

    "Gosto" - foi minha resposta seca, porque detesto que me interrompam quando estou lendo.

    Mas o rapaz não desistiu de puxar conversa comigo: olhou a capa do livro que eu estava lendo, leu o nome do autor e quis parecer entendido:

    "Poe, é? Não é aquele escritor alemão?"

    "Poe era americano", respondi, a título de elucidação.

    "Ah...", fez ele, pensando um pouco. Porém, tentou mais uma vez:

    "Era escritor da Idade Média, né?"

    Não sei como o coitado do rapaz achou que haveria algum escritor americano na Idade Média, mas o esclareci que Poe não existia ainda na era medieval. Cansado de dar tanta bola fora, o cara simplesmente considerou:

    "Acho que vou ler a obra dele também".

    Espero sinceramente que o tenha feito.

    sexta-feira, 18 de setembro de 2009

    Cartazes I

    Um dia, no trabalho, o ralo da pia da copa entupiu legal. É o velho hábito de deixar passar um restinho de comida ralo abaixo que a gente sempre tem: de restinho em restinho, o ralo encheu o papo e entupiu de vez.

    Problema resolvido, alguém achou importante colocar um aviso na copa para que as pessoas tomassem mais cuidado com os restos de comida da próxima vez que utilizassem a pia. Só que "restos" de comida virou uma outra coisa:

    terça-feira, 15 de setembro de 2009

    Nobody puts Baby in a corner

    Essa frase sempre levou a gente ao delírio - quando digo "a gente", quero dizer eu e minhas irmãs. Aquele momento em que Johnny Castle resolve voltar ao baile para lutar pela Baby em Dirty Dancing sempre ficou na minha cabeça: já pensou, você encostada num canto do salão como o resto do restolho, fazendo contraponto para a beleza da irmã... Deus me livre. Ainda bem que a Baby tinha o Patrick Swayze para salvá-la. Já comigo... já frequentei muitos cantos de muitos bailes, mas não tive a mesma sorte (:P).

    Depois, veio Ghost - Do outro lado da vida. Quando esse filme passou nos cinemas e foi aquele sucesso estrondoso, eu tinha apenas 9 anos e não podia ir vê-lo - se não me engano, a censura era 10 anos. Sacanagem, eu estava tão pertinho dessa idade! Mas não deu: quem acabou indo foram minhas duas irmãs mais velhas. Lembro de esperar ansiosamente pela volta delas e, quando elas finalmente chegaram em casa, ainda discutindo animadamente o filme, implorei para que me contassem todo o enredo. Imagine a dificuldade das coitadas, tentando descrever quase duas horas de filme. E o nível de detalhamento que eu pedia! "Como era a mocinha?" "Ah, ela tinha cabelo curto, preto, lindo!" "E o mocinho?" "Era muito gato, louro dos olhos azuis" (nessa época a gente ainda não tinha visto Dirty Dancing). Só fui ver Ghost depois que saiu na locadora, quase um ano depois. E me apaixonei completamente pelo Sam, o fantasma.

    Essas foram as lembranças que surgiram na minha cabeça hoje, quando entrei nos jornais online que sempre leio, todos os dias, e vi a triste notícia. Realmente, câncer de pâncreas não é pinto, é um câncer agressivo, e mesmo assim ele ainda conseguiu viver mais de um ano. Uma tremenda conquista. Porque, afinal, "nobody puts Patrick in a corner".

    RIP, Patrick Swayze.

    sábado, 12 de setembro de 2009

    Flashes da Bienal

    Nem bem cheguei da Bahia ontem, hoje já estava na Bienal do Livro, fuçando aquelas publicações difíceis de encontrar nas livrarias. Cheguei às 10h30 e achei que, em coisa de duas ou três horas, já estaria voltando para casa. Cá estou eu, chegando em casa às 21h... Por que ainda me iludo com essas coisas?

    Não consegui me segurar e acabei comprando alguns livros. Tenho uma lista quase perpétua de livros para ler que só aumenta, e a Bienal não ajudou muito. Acabei voltando para casa com mais seis livros (um deles sendo uma coletânea!) para ler... Vou listá-los em ordem cronológica de compra:

    1) "A bolsa e a vida - Economia e religião na Idade Média", Jacques Le Goff

    Foi no estande da Record, que estava lotado de gente para a sessão de autógrafos do Bernard Cornwell. Enquanto os fãs esperavam ansiosos pelo autógrafo de um nada satisfeito Cornwall (estava com uma cara de cansaço...), passeei pelo estande semilotado e acabei, como sempre, parando na seção de História. Tenho um fraco por história medieval (vocês vão comprovar isso mais adiante), então gostei de cara do título desse livro. Comprei na hora.

    2) "Os Cavaleiros de Cristo - Templários, teutônicos, hospitalários e outras ordens militares na Idade Média", Alain Demurger

    Não disse que tinha um fraco pela Idade Média? Pois então.



    3) "Cartas do Front - Relatos emocionantes da vida na guerra", Andrew Carroll

    Comprei junto com o livro de cima e, meu Deus, nem sei como vou conseguir ler. Acho que só com uma caixa de lenço ao lado. O livro é todo formado por cartas enviadas por soldados a seus familiares, amadas, etc. Ele cobre desde as guerras mundiais até a guerra do Iraque. O autor ainda pesquisou o que aconteceu com cada uma dessas pessoas.

    Olhando pelo lado mundano da coisa, esses dois livros foram o maior negócio que eu fiz na Bienal inteira. Eles estavam no estande já com 50% de desconto: os dois saíam à R$ 56, uma pechincha. Só que ainda pude usar o reembolso do ingresso da Bienal. Resultado? Paguei a bagatela de R$ 44 pelos dois livros.

    4) "The plays of Oscar Wilde"

    Pela parede envidraçada do estande da Livraria da Travessa, vi a ilha de livros da edição de pocket-books da Worsdworth Classics e não resisti: acabei entrando para garimpar alguma coisa. Achei esse tomo com todas as peças teatrais escritas pelo Wilde. Como romancista, confesso que não gostei do estilo dele, e justamente porque ele ficaria mais adequado se fosse uma peça de teatro. Então, voi-là! Quem sabe não gosto mais dele como dramaturgo?

    5) "Hans Staden: Duas viagens ao Brasil"

    No estande da L&PM, achei um livro com as cartas de Hans Staden, prefaciado pelo Eduardo Bueno: para uma viciada em História como eu, é como achar ouro. O estande da editora estava lo-ta-do ao limite do insuportável e, para justificar a fila imensa que eu ia pegar para comprar esse livro, resolvi levar mais um, que foi...


    6) "Um bonde chamado desejo", Tennessee Williams
    O livro me atraiu pela capa: a foto de um lindíssimo Marlon Brando como Kowalski. O filme eu não vi, mas achei melhor começar lendo a peça teatral. Depois suspiro por Marlon/Kowalski...

    terça-feira, 8 de setembro de 2009

    Foi por medo de avião...

    Pelo título, pode parecer que vou falar sobre o pseudossumiço do Belchior nessas últimas semanas. Mas não. Apenas aproveitei o gancho para discutir algo mais pessoal: amanhã vou viajar a trabalho e tenho um tremendo cagaço de avião.

    Não há motivo lógico para o temor, a não ser o noticiário atual (tantos casos de acidente, meu Deus!) e uma leve sensação de que, ao inventarmos o avião, fomos longe demais no lance de driblar a Mãe Natureza.

    Meu pai é um aficionado por avião. Durante anos, seu jogo preferido foi o Flight Simulator; seu programa preferido na TV a cabo é Mayday, desastres aéreos, e já decretou que vai tirar o brevê de piloto assim que se aposentar (para nosso total desespero). Quando falo sobre esse medo, ele retruca: "Apenas um em cada um milhão de voos* termina em acidente. Mais fácil morrer na estrada do que no ar". Mas se estou num acidente de carro, minhas chances de sobrevivência são maiores. Agora, vai ver minha chance de sobreviver em um avião que cai no meio do Oceano Atlântico?

    *Não sei se essa estatística é a correta, estou puxando pela memória. Mas um em um milhão já me pareceu demasiado frequente!

    segunda-feira, 24 de agosto de 2009

    Ame o seu vizinho

    Não sei o que acontece: nunca tive sorte com vizinhos.

    As pessoas me contam histórias maravilhosas sobre seus vizinhos, de como eles estão sempre lá presentes para ajudá-los, de como já tomaram emprestado não apenas as famosas xícaras de açúcar, mas também CDs, DVDs, eletrodomésticos e até carros. Comigo é diferente. Ao lado da minha casa, já morou toda a sorte de vizinhos folgados, barulhentos, enfim, a crème de la crème da falta de educação.

    Já diz o ditado: "Vizinho não se escolhe". Infelizmente!

    Abro um parêntesis: até que, no apartamento em que vivo hoje, tenho um relacionamento legal com meus vizinhos. O fato de eu passar quase o dia todo fora parece facilitar nesse mister, é verdade, mas já consegui ajuda deles em algumas situações chatas. Deles eu realmente não tenho do que reclamar.

    Mas então por que é que estou contando essa história toda? É por causa de minha outra casa, a que acabo de comprar na cidade que morava antes de vir para o Rio.

    Fui lá neste fim de semana para mostrar minha casinha para uns familiares: ela fica dentro de um desses condomínios fechados, com jeito de cidade de interior, muito agradável. Só que, como a casa acabou de me ser entregue, ela ainda não tem portão. Olhei o gramado (que está bem castigado, aliás) e vi umas catotinhas brancas. Ora, eu já tive cachorro por 17 anos e sei muito bem o que é isso: é cocô ressecado.

    Minhas suspeitas se confirmaram quando, de repente, surge um pinscher lépido e faceiro correndo no meu gramado, já pronto para fazer suas necessidades, numa familiaridade de quem não está fazendo isso pela primeira vez. Acontece que bichinho pertence ao vizinho da frente que, ao ver a dona da casa ali, olhando tudo, chamou o cachorrinho na hora, todo sem graça.

    Eu estou louca ou é o cúmulo da cara-de-pau e falta de respeito simplesmente deixar seu cachorro fazer as necessidades no gramado da casa de outra pessoa, mesmo que a casa esteja fechada? É cada um que me aparece...

    segunda-feira, 17 de agosto de 2009

    Ensinando a tricotar

    "Tia, você me ensina a fazer tricô?"

    De tanto me ver tricotar, minha sobrinha de oito anos quis aprender também. Apesar de pouquíssimo acostumada ao papel de professora, me aventurei a explicar a ela como montar os pontos iniciais, como são os pontos tricô e meia, como arrematar e fechar o trabalho.

    Fiquei enternecida de vê-la ali, tricotando com dificuldade, as mãozinhas segurando as agulhas desajeitadamente, demorando para fazer os pontos meio desengonçados, próprios de quem está começando a aprender.

    E enfia a agulha no ponto, passa a linha, puxa a agulha: tudo feito com cuidado, o rostinho compenetrado, mordendo a lingüinha, num jeito muito seu.

    Por fim, ficou pronto seu primeiro trabalho: um quadradinho bem pequeno de lã verde. Seus olhinhos brilharam e ela correu a casa inteira, mostrando, orgulhosa, o que havia feito. E eu também estourando de orgulho da minha pequena pupila.

    Engraçado como coisas tão simples podem nos dar uma sensação de completude tão grande.

    domingo, 9 de agosto de 2009

    Update: "Amadeus"

    Disse lá atrás que estava vendo o filme Amadeus por etapas. Hoje finalmente consegui ver o final do filme e algumas coisas mudaram sobre a minha análise anterior:

    1) Sobre Salieri - pareceu menos invejoso. Menos mal.

    2) Sobre Constanze - melhorou sensivelmente no decorrer do filme, deixando de ser a debilóide do início para uma mulher com mais fibra.

    No geral, o filme é OK, mas o que salva mesmo são as músicas, as composições maravilhosas de Mozart. No fim das contas, na categoria filmes sobre gênios da música, ainda prefiro Minha amada imortal.

    quarta-feira, 5 de agosto de 2009

    Peito de peru

    Já faz tempo que não conto histórias sobre os meus sobrinhos, embora eles me brindem com situações engraçadíssimas numa frequência deliciosa.

    Essa que vou contar aconteceu num rodízio de pizza. Um garçom se aproximou de nós e ofereceu:

    - Pizza de peito de peru?

    No que meu sobrinho de quatro anos caiu na gargalhada.

    - Pizza de peito de pelu? (é, ele fala como o Cebolinha!) - e continuava a rir. Não entendíamos nada, até que a mãe dele perguntou:

    - Por que você está rindo, que graça tem pizza de peito de peru?

    O pimentinha responde:

    - Peito é de menina e pelu é de menino! Como pode ter peito de pelu?

    Tivemos que fazer muita força para não rir...

    quinta-feira, 30 de julho de 2009

    Filme: Amadeus

    Para alguém que gosta de música clássica, é meio inconcebível que eu nunca tenha visto Amadeus, a cinebiografia (mais ou menos, né) do Mozart. Mas, essa semana, descobri que meu cunhado tem um DVD do filme e resolvi vê-lo.

    Primeiro de tudo, vou ter que fazer isso em etapas, porque Amadeus tem quase três horas e chego muito cansada do trabalho, não dá pra ver tudo de uma tacada só. Ontem vi o "primeiro capítulo", digamos assim, e já achei algumas coisas meio complicadas. Vejamos:

    Mozart e sua risada bizarra (???)

    1) A caracterização de Salieri - Meu Deus, o que fizeram com o pobre? Transformaram o Salieri num invejoso homicida, quando o cara foi até amiguinho do Mozart, chegando a ser professor de piano de um filho dele. Tsc, tsc.

    2) A risada de Mozart - Creio que cada pessoa tem direito a possuir suas idiossincrasias, e não sou ingênua de supor que Mozart não tinha nenhuma. Mas aquela risada ridícula?! De onde tiraram que ele ria daquele jeito estapafúrdio?

    3) Constanze Mozart - Gostaria muito de acreditar que a mulher que conquistou um gênio como Mozart não se comportava como a completa debilóide que é retratada no filme.

    Obviamente continuarei a ver o filme, mas sem a mesma animação do início. Fica a pergunta: por que inventar tanto em cima de uma vida que já foi incrível por si só?

    quarta-feira, 22 de julho de 2009

    Tricotando

    Todo inverno, baixa o espírito de dona Filó em mim e me ponho a tricotar.

    Aprendi tricô há quatro anos, quando estava desempregada e precisava urgentemente de uma ocupação para não enlouquecer. Mamãe me ensinou o básico: montar os pontos na agulha, fazer os pontos tricô e meia e fechar o trabalho. Foi o suficiente para fazer um cachecol e um gorro, além de aprender combinações dos dois pontos básicos que formam uma infinidade de padrões diferentes.

    De vez em quando pego minhas agulhas, principalmente quando as primeiras frentes frias dão conta da chegada do inverno. E, esse ano, voltei com tudo para o hobby (mais do que um hobby, tricô é uma terapia, um anti-stress maravilhoso).

    Ontem terminei um cachecol para mim e já estou trabalhando em um idêntico para a minha sobrinha. Depois, será um gorro para um sobrinho, outro gorro para o outro sobrinho, cachecóis para o pessoal do trabalho... Do jeito que a lista de pedidos aumenta, só vou parar de tricotar no inverno do ano que vem!


    Esse é o cachecol que fiz essa semana. A quem interessar possa, foi feito com lã Pengouin Quartzo cor 1176, agulha 7 e ponto ventania (*1 ponto sem fazer, 1 laçada e dois pontos juntos em tricô*, segue de *a* até o final da carreira. A carreira tem que ser montada com pontos múltiplos de três - esse cachecol da foto foi feito com 21 pontos).

    quinta-feira, 16 de julho de 2009

    Quinta musical: Feist

    Tenho falado muito pouco sobre músicas e filmes (até mesmo sobre livros), transformando o blog numa espécie de diário das bizarrices que acontecem comigo. Não era bem essa a proposta desse espaço, mas, tudo bem: prefiro pensar que sigo a filosofia do Seinfeld, de falar sobre o nada e não delimitar demais o espaço do blog.

    Bom, isto posto, coloco aqui uma dica musical: a cantora e compositora canadense Leslie Feist.

    Conheci a cantora por causa do filme The Jane Austen Book Club. Lá para o final do filme, há uma longa sequência de cenas embalada por uma música que achei belíssima. Fui procurar e era So sorry, da Feist:



    Fiz mais algumas buscas na internet e descobri que também é dela uma música do comercial da Lacoste em que um rapaz vai pulando de toco em toco na beira da praia:



    O resultado de tudo é que me apaixonei pela música que ela faz. Esse ano ela anunciou uma pausa na carreira, porque passou a fazer muitos shows e ficou sem tempo para criar. Alguns acham que a pausa pode ser permanente, e os otimistas como eu esperam que seja apenas um hiato que vá estimular sua criatividade e nos dar mais presentes como So sorry, My moon, my man, I feel it all, One evening...

    domingo, 12 de julho de 2009

    Adaptações e adaptações

    Esta semana tomei dois sustos. É que dois dos meus autores preferidos estão tendo suas obras adaptadas, e vi dois trailers - de um filme e uma série - dessas adaptações. O motivo do susto é que, pelo que ficou mostrado, as duas adaptações parecem modificar muitas coisas do original.

    Não que necessariamente isso seja uma coisa ruim. Não sou "fãndamentalista", de achar que uma adaptação tem que ser exatamente igual ao original. Mas algo não bateu legal em um dos trailers. Vamos por partes:

    1) Sherlock Holmes

    O meu detetive preferido vai virar filme a ser lançado esse ano. Quem dirige é Guy Ritchie (ex-Madonna), que tem uns filmes de ação bem legais (gosto especialmente de RocknRolla). É uma escolha inusitada de diretor, visto que Sherlock é super cerebral e raramente recorre ao seu passado como pugilista para pegar os bandidos.

    Quando vi o trailer, percebi que Guy imprimiu seu ritmo: a impressão que deu é de um 007 na Inglaterra vioriana. Sherlock soca oponentes, luta muito e flerta intensamente com Irene Adler (que não se chama Amélia, mas que ele diz ser a "mulher de verdade" no conto Um escândalo na Boêmia). Bem diferente, portanto, do detetive fleumático e quase assexuado a que estamos habituados.

    Tudo considerado, não achei uma alteração ruim e vai servir para dar uma olhada numa personalidade alternativa. É como se fosse aquele Planeta Bizarro dos quadrinhos do Superman, em que tudo é ao contrário. Tendo isso em mente, pretendo me divertir bastante vendo esse filme - ainda mais que quem faz Sherlock Holmes é esse fenômeno que se chama Robert Downey Jr.

    2) Emma

    Depois de anunciar a morte do drama de época na sua grade de programação, a BBC nos dá a derradeira oferenda à Jane Austen: uma adaptação de Emma. Está longe de ser meu romance austeniano favorito, mas Emma tem certas particularidades que não vi no promo liberado pela rede de TV britânica.

    Foi um susto quando anunciaram oficialmente que Jonny Lee Miller (de Eli Stone) interpretaria o austero sr. Knightley. Cara de novinho, aparência muito descansada e marota, o ator não tinha nada que pudesse sugerir um homem de quase 40 anos, sisudo e dono de uma propriedade, com várias pessoas sob sua influência (como Knightley é descrito do livro). E, depois de ter visto o trailer, sorry: o erro de casting se confirmou, infelizmente. Ele é risonho e não passa o ar grave que Knightley deve ter. Sem contar na suprema injustiça de tê-lo interpretando, pela segunda vez, um herói austeniano (ele foi Edmund Bertram naquela versão grotesca de Mansfield Park).

    Há uma cena que me incomodou demais. Nela, Emma chora convulsivamente e diz a Knightley que o ama, mas que não pode se casar com ele. Depois, sai correndo, desesperada. Ora, isso não condiz em nada com a personalidade de Emma!

    Parece contraditório que eu goste de uma adaptação que muda totalmente a personalidade do Sherlock Holmes, mas fique irritada com outra que altera a de Emma Woodhouse. Eu digo que não. Se for para mudar um personagem, prefiro como Guy Ritchie fez: mudou logo tudo, subverteu a ordem. Porque, se é para deixar Emma quase igual ao romance, para que enfiar uma cena piegas daquela e que nada tem a ver com o personagem original?

    Mas Jane Austen é vício, e mesmo a pior adaptação de sua obra merece uma vista, nem que seja para falar mal.

    sábado, 11 de julho de 2009

    Psiu!

    Estou parada na calçada, esperando para atravessar a rua. A meu lado, uma moça me chama: "Psiu!"

    Olho para ela, esperando que me faça um pedido de orientação, me pergunte onde é rua tal, etc. Mas, para minha surpresa completa, ela me diz:

    "Senti uma vontade muito grande de lhe falar, quer que eu jogue umas cartas para você?"

    Eu devo ter ficado com uma cara de interrogação muuuuito grande, porque ela repetiu o oferecimento:

    "É que eu jogo tarô, tarô cigano... Quer que eu leia as cartas para você?"

    Educadamente recusei, mas fiquei com a pulga atrás da orelha a manhã inteira: o que será que a moça "sentiu" a meu respeito para que tenha essa vontade tão grande de ler cartas de tarô para mim?

    Obs.: juro que a história é verdadeira, e ocorreu essa semana mesmo.

    domingo, 5 de julho de 2009

    Meu celular, minha vida

    Há pessoas (e não são poucas) que assumem um relacionamento quase orgânico com seu celular. O aparelho vira extensão por completo do usuário, de tal forma que essa pessoa não consegue viver sem ele.

    Eu não sou nenhuma usuária hard de celular, muito longe disso: falo estritamente o necessário, envio alguns torpedos e só recentemente é que fui usá-lo para outros recursos, como ouvir músicas e enviar foto-torpedos. Por outro lado, não fico facilmente espantada com o nível de simbiose que algumas (ou muitas!) pessoas desenvolvem com o aparelho. Dou de ombros e digo que são sintomas da pós-modernidade, ou algo que o valha.

    Mas nada me preparou para o que testemunhei hoje, voltando da casa dos meus pais para o Rio de Janeiro.

    No ônibus de viagem, senta-se ao meu lado uma mocinha de uns 17 ou 18 anos que simplesmente não largava o seu celular (ela até poderia ter mais, talvez 20 e poucos anos. Sou péssima para avaliar a idade de outras pessoas). Entrou no ônibus já agarrado nele, falando com alguém, e assim continuou por um bom trajeto da viagem. Nada parecia interromper sua conversa animada.

    Quando digo que nada parecia interromper, quero dizer exatamente isso: NADA interrompeu a conversa da menina. Nem quando, lá pela altura de Casimiro de Abreu, a moça começou a passar mal por causa da viagem e teve que recorrer a um saquinho plástico. Isso mesmo: a mocinha não desligou o celular nem para colocar os bofes para fora. Esvaziou o estômago e voltou a falar no celular, como se nada houvera acontecido.

    Às vezes penso ser uma espécie de sina minha ser uma testemunha do inacreditável, mas ao menos serve para encher este blog de posts.

    quarta-feira, 1 de julho de 2009

    O filho? O pai? Quem?

    Muitas coisas me irritam, mas nada me irrita mais do que ver informação errada veiculada como verdadeira.

    Comecei a ler o livreto Barão de Itararé - Herói de três séculos, uma breve biografia do Apparicio Torelly, o Barão de Itararé, jornalista e autor de máximas como "Mesa redonda não tem cabeceira". É um personagem curioso e quase folclórico no jornalismo brasileiro, que despertou meu interesse ao vê-lo citado na biografia do Nelson Rodrigues, O anjo pornográfico (excelente, por sinal, mas isso é assunto para um outro post).

    E é justamente nessa passagem que entrelaça a vida do Nelson com a do Barão que o autor do livro que estou lendo comete pecados capitais. Eis o trecho:

    Mário Rodrigues (um jornalista famoso, irmão de Nelson Rodrigues, que teve seu nome imortalizado como o nome do estádio do Maracanã, que se chama oficialmente Estádio Mário Rodrigues) fundou o jornal A manhã[...]

    1) Mário Rodrigues, que fundou A manhã, era PAI do Nelson Rodrigues;

    2) O nome oficial do Maracanã é Estádio Mário FILHO, este sim irmão do Nelson.

    Só alguém que vive debaixo de uma pedra para errar o nome do Maracanã dessa maneira e ainda trazer uma informação totalmente errada sobre o pai e o irmão do Nelson Rodrigues! Com esse erro crasso, comprometeu para mim toda a obra, porque não conheço a biografia do Barão de Itararé e não posso saber se o que o autor escreveu é verdade ou um erro absurdo como esses daí. Eis o dilema: continuo a ler sem saber se posso confiar nas informações? Ou deixo o livro de lado? Estou inclinada à segunda possibilidade...

    domingo, 28 de junho de 2009

    Um estouro!

    A culinária MacGyver está de volta! Prato do dia? Bolinho de aipim.

    Só que, desta vez, a receita não deu muito certo... Quero dizer, acho que daria certo para o próprio MacGyver escapar de alguma prisão, isso sim!

    O que aconteceu: havia sobrado um pouco de aipim cozido que fiz para o lanche e resolvi fazer bolinhos de aipim. Peguei uma receita na internet e - aí vem o problema - por não ter os ingredientes em casa, tive que fazer, assim... umas adaptações.

    A receita pedia que se misturasse uma gema ao aipim amassado, mas pensei que margarina poderia ter a mesma consistência. Era para enrolar o bolinho e passar na farinha de trigo, mas, como não tinha farinha, passei na maisena.

    Acho que essas adaptações não foram bem-vindas, porque os bolinhos literalmente explodiram quando foram fritos! Voou massa de bolinho de aipim para todos os lados da cozinha, queimou a palma da minha mão (inchou na hora!) e só restaram umas casquinhas ocas.

    Nem sempre a gente acerta, né... :(

    segunda-feira, 22 de junho de 2009

    Abra-te, Sésamo!

    Então a chave da minha porta travou legal na trinca tetra (tenta falar isso rápido...). Ela gira para um lado e para o outro, mas sair mesmo, que é bom, nada. Puxo, faço força, uso alicate e nada: não sai nem com feitiço de Harry Potter.

    Chamei o chaveiro para resolver a história. Ele chega, conto o que aconteceu. Seu veredicto? "Moça, em trinta anos de serviço, eu nunca vi um troço desses". Ah, se eu ganhasse um real cada vez que ouço isso! Certas situações só acontecem comigo...

    quinta-feira, 18 de junho de 2009

    Culinária MacGyver

    Quem mora (ou já morou) sozinho sabe do que estou falando: por mais que compremos o mínimo possível para uma pessoa só consumir, a geladeira acaba virando depósito de restos de comida. Queijo é sempre um problema: começa a ficar velho, rançoso, bolorento, tem que comer logo. Verdura e legume também não duram muito. O jeito é recorrer ao seu MacGyver* interno, juntar essas sobras e ver o que dá para fazer.

    "Com esses ingredientes, eu faço um detonador e fujo daqui!"

    Na minha geladeira e despensa, havia os seguintes itens:

    • Pouco menos da metade de um queijo minas que meus pais trouxeram para cá e deixaram aqui;
    • Uma cebola de umas duas ou três semanas (se não mais!);
    • Um pacote de pozinho sabor quatro queijos, que a diarista, por motivos ignorados, não usou quando fez um miojo;
    • Um pote gigantesco de margarina que está para vencer em agosto e não faço ideia de como vou consumir até lá.

    Hoje fui à feira e comprei uma cebolinha para fazer o seguinte: uma pasta de queijo minas com cebolinha para passar no pão na hora do lanche!

    Fritei a cebola de um mês na margarina que vai vencer em agosto, piquei a cebolinha e diluí o pacote de pozinho de miojo em 1/4 de xícara de água quente. Depois, bati tudo no processador com o queijo minas quase rançoso. Prontinho! Uma pastinha boa pra carramba, como diria o Claude Troisgos.

    *pesquisei o nome no Google para saber escrever, claro!

    sábado, 13 de junho de 2009

    Festa junina? Que festa junina?

    Minha sobrinha de oito anos chegou em casa com a novidade:

    - Na festa junina da escola vou dançar forró-funk.

    Antes que nos recuperássemos de uma síncope cardíaca por ouvir a palavra "funk", veio a lista do figurino: saia, blusa xadrez, meia arrastão.

    - A saia pelo menos é de caipira, né? - perguntei, já meio desanimada.

    - Não, é saia jeans - elucidou minha irmã.

    Realmente, não sei o que acontece. Num país como o Brasil, já é difícil preservar a história, a tradição do povo por meio de documentos. É uma nação que não dá a menor bola para a sua memória. Mas, pelo menos, tínhamos as festas tradicionais como registro oral da nossa cultura. E, dentre as manifestações culturais brasileiras, a minha preferida sempre foi a festa junina.

    Uma mistura de homenagem aos santos mais queridos do Brasil e festa com um quê de paganismo, as festas juninas sempre foram um momento de muita felicidade: comida boa, tempo gostoso, friozinho, e as animadas danças quadrilhas, com pessoas vestidas à caráter.

    E aí começou esse odioso movimento para descaracterizar mais uma tradição da nossa cultura nacional. Primeiro, foram as roupas de caubói americano, que substituíram as caipiras. Depois vieram o forró e a música de rodeio, para jogar para escanteio as quadrilhas tão conhecidas. Agora, pelo que me informa minha sobrinha, a moda é o forró-funk, o que quer que seja isso.

    Já consigo imaginar, num futuro não muito distante, uma criança chegando esbaforida da escola:

    - Mamãe, mamãe! Na festa junina desse ano, a professora resolveu mudar tudo, inovou mesmo!

    - Como assim, meu filho?

    - Agora a gente vai ter que usar umas roupas assim, todas fingindo que estão remendadas... como é mesmo o nome que ela usou...? Ah, caipiras!

    - Caipiras?

    - É! Caipiras! E não é só isso! A gente vai dançar uma música esquisita lá... Não é forró, nem axé, nem sertanejo, nem forró-funk! A música é assim: "pula a fogueira, iá-iá, pula a fogueira, iô-iô, cuidado para não se queimar, olha que a fogueira já queimou o meu amor..."

    - Quer dizer que vocês vão dançar quadrilha?

    - É esse o nome mesmo! Viu como nossa escola é moderna?

    terça-feira, 9 de junho de 2009

    A Condessa de Barral

    Escuso falar de saudades, que são apenas mitigadas pelas cartas. Adeus e sempre, sempre - o seu P.

    Com que olhos você quer que eu leia [suas cartas], estudando dobradamente com meu filho? [...] estou abarrotada de cartas suas!
    Quem é P. e a quem ele dirige este recado apaixonado? E a quem ele está soterrando de cartas cheias de saudade?

    P. é Dom Pedro II, e sua amada é a Condessa de Barral, tema de um maravilhoso livro de Mary del Priore: Condessa de Barral - A paixão do Imperador. (Mary é autora do livro O príncipe maldito, que recomendei em outra ocasião).

    Não se poderia dizer que era uma mulher à frente de seu tempo (que expressãozinha batida!), mas Luísa Margarida Portugal e Barros era muito acima da média da época, de mulheres que recebiam o mínimo de educação possível só para não fazer feio em eventos sociais.

    Educada na França com todo o rigor que dispensavam à educação dos homens, foi dama de companhia da Princesa Francisca, irmã de Dom Pedro II, quando esta se casou com um nobre francês. Esse foi o passaporte para que Luísa se tornasse preceptora das princesas imperiais brasileiras, Isabel e Leopoldina - e uma das mulheres mais influentes do Segundo Reinado.

    Bonita, inteligente, articulada e extremamente culta, Luísa encarnava todos os ideais românticos de Pedro, casado por procuração com uma princesa austríaca feia e sem brilho algum. Durante toda a vida, Dom Pedro II procurou ser uma imagem oposta a do seu pai, mulherengo assumido que teve, conta-se, mais de 50 filhos fora do casamento. Sabe-se de poucos casos que teve, sempre discretos, mas, com Luísa, foi amor para a vida toda, mais de 30 anos juntos. E um amor que nem sempre se traduzia em manifestações carnais de afeto: era o bom e velho amor platônico, de reconhecimento de almas afins - embora, claro, acredite-se que eles chegaram mesmo às vias de fato. A troca de olhares e pisões de pé (forma de carinho comum em Portugal na época) aconteciam em frente mesmo das pupilas imperiais, com o máximo de disfarce que era possível a dois apaixonados.

    Mais uma vez recomendo essa leitura!

    terça-feira, 2 de junho de 2009

    Maraca lotado!

    A primeira vez que fui ao Maracanã foi no dia das mães, como relatei em um post anterior - estádio vazio, tranquilo, jogo morno entre o São Paulo e o Fluminense. A segunda vez que fui ao templo do futebol, neste domingo, foi a completa antítese: era um Maraca lotado com 71 mil rubro-negros doidos para ver a estreia do Adriano Imperador.

    Não bastasse esse clima de festa para o retorno do filho pródigo, antes da partida, os telões do estádio transmitiram ao vivo o pronunciamento da Fifa listando as 12 cidades brasileiras que irão sediar a Copa de 2014. O Rio de Janeiro não era propriamente uma surpresa - a final do campeonato será, inclusive, no Maracanã. Mas ao ouvir o nome da cidade ser pronunciado por Joseph Blatter, toda a torcida aplaude, grita, comemora. É lindo de se ver. Fogos de artifício explodem com as cores da bandeira do Brasil, Sandra de Sá está no gramado e canta País tropical.

    Minha pele arrepia, meus olhos lacrimejam: danem-se os intelectualóides que classificam o futebol como o ópio do povo! Eles provavelmente nunca puseram os pés num Maracanã lotado.

    P.S.: talvez pareça insensível de minha parte falar de um assunto assim em tempos como esses. Mas é uma forma de proteção contra essa tragédia que deixou nossa semana ainda mais cinzenta.

    terça-feira, 26 de maio de 2009

    O duende da limpeza

    No filme Sinédoque, Nova York, há uma parte em que uma das personagens contrata uma diarista e só se comunica com ela através de bilhetes - nunca há interação entre as duas mulheres. Quando vi no cinema, ri, porque é exatamente o que está acontecendo comigo: não sei o nome da diarista que vem à minha casa, nem como é seu rosto.

    Não, eu não sou maluca de sair colocando uma completa desconhecida na minha casa. Ela é irmã de uma antiga diarista minha, que não pôde assumir minha casa porque já está com a semana lotada. Ela apenas passou a chave da minha casa para a irmã que, quinzenalmente, vem fazer a faxina aqui.

    Saio de manhã antes de ela chegar, e, quando volto do trabalho, ela já se foi. O único rastro de que ela passou no meu apê é a limpeza e a arrumação. Por isso, passei a chamá-la de duende da limpeza, meio como uma fada do dente ao contrário: eu deixo dinheiro em cima da mesa como oferenda e, ao chegar em casa, está tudo limpo e arrumado.

    Já estamos nessa dinâmica há dois meses, mas hoje o duende resolveu se apresentar. Chegando em casa, encontro uma nota em cima da mesa do computador: "Oi. Meu nome é Virlei. Meu celular é XXXXX".

    Então o duende tem nome... Muito prazer, Virlei!

    sexta-feira, 22 de maio de 2009

    O leitor

    Uma de minhas atrizes preferidas é a Kate Winslet, como já cheguei a comentar aqui num post celebrando o oscar que ela conquistou este ano, pelo filme O leitor. Finalmente tive a oportunidade de vê-lo e comprovar que a premiação não foi desmerecido e ela ganhou o oscar mesmo com todo o louvor.

    Não que eu estivesse surpresa com o resultado da premiação da Academia. Como fã, já conheço e admiro o trabalho de Kate há muitos anos para me surpreender com um prêmio que era seu de direito. Mas é que o filme é todo ela. Como a figura mitológica de Atlas, que leva o mundo nas costas, Kate Winslet é toda a sustentação de O leitor. Sem ela, a trama não seria lá essas coisas.

    A história é bonita, e prefiro não comentá-la para não gerar spoilers - mas é só isso. O aprofundamento do personagem de Ralph Fiennes é deficiente - e olha que ele era o protagonista. Kate dá variadas nuances à sua Hanna Schmitz: aspereza, doçura, inocência, amargura. Um trabalho sofisticado de construção de personagem que deveria ser estudo de caso nas mais prestigiosas escolas de atuação.

    Também vale pontuar algo mais. Uma das coisas que incomodaram muitos espectadores americanos foi o fato de ela aparecer nua em muitas cenas. Só posso interpretar como clássico puritanismo de lá, porque em nenhum momento as cenas são de mau gosto ou desnecessárias. A nudez crua, sem retoques nem silicone (ela até deixou o cabelo do sovaco crescer), é de uma generosidade, de uma entrega que poucas atrizes se permitem. E, felizmente, Kate é uma delas.

    terça-feira, 19 de maio de 2009

    Beam me up, Scotty!

    Os fãs mais hard-core da série não vão gostar do novo filme do Star Trek. Mas não meeeesmo! O J.J. Abrams jogou tudo o que se sabia sobre a série pela janela, subverteu a ordem no universo trekker (de uma maneira bem esperta, diga-se de passagem) e resetou a série.

    As alterações não foram bem recepcionadas pela maioria dos fãs, mas devo confessar que eu a-do-rei o filme. Adorei. Dinâmico, engraçado e com um rasguinho de ciência, tudo na medida!

    Novos rostos para a velha tripulação da Enterprise

    E eu acho que esse novo universo do Star Trek tem espaço - inclusive, gostaria que não parasse neste filme e houvesse continuações para essa nova tripulação. Para a história antiga, eu tenho os DVDs da série original, não preciso de um filme que desse continuidade a ela.

    Não sei como será o rendimento do filme, pois foi lançado colado com Wolverine e Anjos e Demônios e isso pode prejudicar - e muito! - a ideia de uma sequência. Só posso torcer para que Kirk, Spock, McCoy, Scotty, Sulu, Uhura e Chekov ainda tenham o velho poder de atração - embora com uma nova roupagem.

    P.S.: pelo que me lembro, Kirk não disse no filme novo a clássica frase que dá título a este post. Mas, também, não posso por a mão no fogo: estava tão animada em ver o filme que certamente terei de vê-lo de novo, para perceber mais aspectos da trama.

    sábado, 16 de maio de 2009

    Que bonito é...

    O início da semana foi meio pesado com a morte do Pit, mas, aos poucos, vou voltando ao normal. Acaba que nem contei ainda sobre minha experiência ao entrar pela primeira vez no Maracanã!

    Fui lá no dia das Mães, no jogo entre Fluminense e São Paulo. Na verdade, sou flamenguista, mas acabei ficando mesmo na torcida são-paulina (até por similaridade das cores entre os dois times).

    Eu no Maraca

    O astral é maravilhoso e o campo não é tão gigantesco quanto as câmeras de televisão fazem parecer nas transmissões das partidas. Mesmo não torcendo para o São Paulo, devo admitir que o clima acaba envolvendo a gente e berrei e xinguei os jogadores (e o árbitro, claro) tanto quanto o mais empedernido torcedor do tricolor paulista. Estou meio rouca até hoje!*

    A meta agora é ir a um jogo do meu Mengão... E vamos que vamos!

    *(se fiquei rouca num jogo do São Paulo, vou ficar completamente afônica depois de uma partida do Fla!)

    quarta-feira, 13 de maio de 2009

    Adeus, meu amigo...

    Estou no trabalho e o celular toca. É minha mãe, que mora em outra cidade e nunca me liga no horário de trabalho (nem no meu horário, nem no dela).

    "Oi, filha, você está com a sua irmã?"

    "Não, mãe, estou no trabalho, em reunião. Não sei que horas volto para casa."

    Silêncio.

    "Sabe que é, filha, é que o veterinário esteve lá em casa e o Pit não está bem do coração, está doente."

    Meu cachorrinho Pit

    Pit é o cachorro de 17 anos que tenho desde menina e que, infelizmente, não pude trazer para o Rio quando me mudei para cá. Minha mãe jamais telefonaria no horário de trabalho só para dizer que ele estava doente. Desconfio do pior.

    "Mãe, você não está só dizendo isso para amortecer o impacto da notícia, né? O Pit já está morto?"

    Depois de um pequeno silêncio, ela diz "Não" três vezes. As três vezes não me convencem e desligo o telefone certa de que ele morreu.

    As horas no trabalho não passam e, ainda por cima, me forço a ir à academia. Não consigo me concentrar nos exercícios e vou embora para casa mais cedo.

    A cada passo mais perto de casa, minhas pernas enfraquecem, ficam pesadas, e meus olhos ardem. Quando finalmente fecho a porta atrás de mim, dou vazão às lágrimas e reúno coragem para ligar para a casa dos meus pais e confirmar a triste notícia.

    Jamais haverá outro cachorro como o Pit. Um vira-lata inteligente, valente e, sobretudo, companheiro. Durante seu "reinado" como bicho de estimação na nossa casa, tivemos mais dois cachorros que não conseguiram se adaptar a ele (e nem ele aos outros), nos levando ao dilema do "ou eu ou ele". Sempre escolhemos o Pit.

    Dos 11 aos 28 anos ele foi meu amigo. Vivi mais tempo da minha vida com do que sem ele; como, de repente, me acostumar à sua ausência?!

    Poucos entendem a dor que sinto e sei que posso até virar piada para algumas pessoas, para quem cachorros são apenas animais irracionais e inferiores a nós. Isso é porque elas nunca tiveram um Pit em suas vidas.

    Só posso agradecer a Deus por ter me abençoado por 17 anos com esse cachorro sensacional. Vai com Ele e São Francisco de Assis, meu amigo! A gente ainda se encontra um dia.

    quinta-feira, 7 de maio de 2009

    Google-ditadura

    Meu post sobre o Air Supply não gerou o efeito que eu esperava. Queria divulgar o trabalho do grupo, mas como - na inocência - coloquei link para o download de uma música deles, o Google disse que eu estava infringindo os direitos autorais e achou por bem deletar todo o post, sem mais. Em vez de me alertar, para que eu pudesse consertar meu erro, optaram logo pela atitude punitiva e arbitrária. Simplesmente lamentável.

    sexta-feira, 10 de abril de 2009

    Kings of Convenience

    Descobri há alguns meses esta dupla norueguesa que faz um som bem diferente do que é comercializado hoje em dia. A maioria das músicas é tocada no violão, dando um tom meio Bossa Nova, mas essa que vou postar aqui é mais agitada. Adoro essa canção e virou rapidamente minha "música de ficar alegre". Chama-se I'd rather dance with you.



    O duo é formado por Eirik Glambek Bøe (o bonitinho tocando piano) e Erlend Øye, o fofíssimo nerd bailarino. Øye tem um projeto paralelo de música eletrônica chamado The Whitest Boy Alive. É bem legal também.

    Obs.: estou sem internet em casa até o final do mês, então vai ficar meio difícil postar neste período (como vocês já devem ter percebido).

    domingo, 5 de abril de 2009

    Rio, aquele abraço!

    Esta semana, voltei a morar no Rio depois de três anos residindo no interior do estado. Mesmo que durante este período eu tenha vindo para cá com certa regularidade, o choque foi inevitável.

    Primeiro: o Rio é um saco sem fundo de gente. Parece não ter fim. Aonde se vá o local está lotado, há fila para tudo.

    Segundo: o trânsito é um caos. Eu, que já reclamava dos problemas que tinha na minha cidade de origem, fico estarrecida com as demonstrações de imprudência e imperícia que vem de todos os lados. E olha que não estou dirigindo por aqui! Só de carona dá a maior aflição. Não sei como vai ser quando comprar o meu carro...

    Terceiro: aqui não existe "Dou um pulinho ali e já volto". É fisicamente impossível! O "já volto" é, tipo, duas, três horas depois. Pelo mesmo princípio, podemos afirmar que a pontualidade é item raro.

    Quarto: você encontra todo o tipo de gente. Não dá para dizer que o carioca é simpático, nem que é antipático. Fui a um restaurante em que a moça que anotava o peso do prato era a simpatia em pessoa, e a moça do caixa, um nojo.

    Falando assim, até parece que eu não sabia dessas coisas, que eu nunca morei no Rio - passei seis anos morando aqui. Mas a gente se acostuma com outra vida, outro ritmo, outra cidade. Em suma: tenho que reaprender a ser carioca.

    • Foto: resisti ao clichê Corcovado-Pão de Açúcar-Praia de Copacabana. Resolvi colocar um retrato bem cotidiano - a estação de metrô lotada de gente para pegar a Linha 2, que serve os bairros da Zona Norte. Aquele abraço!

    terça-feira, 31 de março de 2009

    Deixe que digam, que pensem, que falem...

    Tenho uma admiração genuína pelas pessoas que fazem o que querem sem se preocupar com o que os outros vão pensar (desde que esses atos não prejudiquem outras pessoas, claro). É sério. Mas por que eu estou falando isso? Eu explico.

    Ontem, eu estava dentro do ônibus ouvindo meu MP3 player quando vi um cara no ponto de ônibus ouvindo o dele também. Mas ele ouvia meeesmo, curtindo a música tremendamente. Ensaiava uns passinhos, cantarolava trechos e até tocava guitarras e teclados imaginários. Totalmente leve e feliz, sorridente. Enquanto eu, para não passar por maluca, o máximo que fazia era batucar um cadinho na perna o ritmo da música que eu ouvia, por mais irresistivelmente alegre que ela fosse.

    Tive inveja do cara, juro. As pessoas passavam por ele e olhavam meio surpresas, como se fosse um maluco, e ele nem aí. Eu sorri. Porque, por dentro, era exatamente assim que eu queria estar: dançando, cantarolando despreocupadamente, alheia a tudo e a todos. Curtindo minha música.

    Um dia eu chego lá.

    domingo, 29 de março de 2009

    Ai, meu português...

    Tenho lido cada vez menos jornal de papel, preferindo ler as notícias pela internet. O problema disso é que, com a extinção do revisor das redações dos jornais, sai cada coisa na Web que é de assustar! Hoje fui ler uma matéria no Globo Online sobre um manual de ordem pública que a Prefeitura do Rio vai mandar distribuir e tinha uma galeria de fotos com exemplos sobre a falta de civilidade de que o manual vai tratar.

    O problema foi quando cheguei na legenda da última foto:


    Reparem no título: "Pecados Cariocas". Pecado mesmo! "Expremer"? Caramba...

    quinta-feira, 26 de março de 2009

    China descobriu o Brasil

    E a América, a Austrália, a Antártica... A afirmação é de Gavin Menzies, autor do livro que estou lendo no momento: 1421 - O ano em que a China descobriu o mundo. Oficial da Marinha Britânica, Menzies tem como hobby estudar cartas náuticas antigas. E foi durante esses estudos que ele descobriu a façanha chinesa: em 1421 - antes de Colombo, Cabral e Cook - uma enorme frota partiu da China com o objetivo de descobrir novos mundos, novas civilizações, audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve (tá, isso é a abertura de "Jornada nas Estrelas", mas se aplica ao caso). Voltaram em 1423, depois de terem circunavegado todo o mundo.

    O livro assusta: é um catatau de 550 páginas em letra pequena. Mas o tema é tão interessante para mim que estou adorando. Acabo aprendendo um pouco sobre a história da China medieval e como ela estava avançada em comparação com a Europa no mesmo período. O imperador responsável por essa expedição marítima, Zhu Di (segundo da dinastia Ming), incentivou o intercâmbio cultural entre países da Ásia e da África, compilando um vasto conhecimento sobre ciências e astronavegação. Construiu a Cidade Proibida e transformou Pequim na capital do Império. Estimulou a construção naval e reformou a Grande Muralha da China, adicionando 1.400 km a sua já gigantesca estrutura.

    Quem parte na expedição, como comandante da frota, é o eunuco de confiança de Zhu Di, Zheng He. Não sabia que existiam eunucos na China, muito menos que eles alcançavam postos mais prestigiosos do que simplesmente servirem de guarda para os haréns. E a forma que o autor descreve Zheng He está muito longe da imagem que costumo fazer de um eunuco:

    Era uma figura imponente, mais alto do que Zhu Di. De acordo com alguns relatos, tinha mais de dois metros de altura, pesava mais de 100 quilos (...) Nas dobras de sua veste de seda branca, ele guardava um cofrinho cravejado de pedras que continha os restos murchos de seu pênis e seus testículos, fato este que lhe valeu o apelido de San Bao, "O Eunuco das Três Jóias".
    Resumindo: comprei o livro para conhecer a história naval, mas ganhei um bônus - uma visão da sociedade e da política chinesa no século XV. Recomendo!

    • A foto é de um modelo de navio chinês típico desse período. Eles tinham, em média, 146 metros de comprimento. Só para se ter uma ideia da dimensão, a nau Niña, de Colombo, tinha apenas 11 metros!

    terça-feira, 24 de março de 2009

    Pundufu tanga?

    Isso até já faz tempo, mas eu acho a história tão bonitinha que resolvi contar.

    Desde que meus sobrinhos nasceram, acabo acompanhando, de forma involuntária, os lançamentos de desenhos animados que sempre inundam as salas de cinema e as locadoras durante o período de férias escolares. Então eu assisto a uma animação e outra junto com a garotada, para poder depois conversar com eles a respeito.

    Um dia, o meu sobrinho de três anos veio me contar, todo empolgado, que tinha visto um filme no cinema e que, ainda por cima, tinha ganhado um brinquedinho do McLanche Feliz do desenho.

    "Tia Nane, eu vi o Pundufu Tanga no chinema!"

    "Cuméquié? Pundufu o quê?"

    "Pundufu Tanga!"

    E eu continuava com cara de interrogação, completamente besta. Que diabo de filme é esse?! Perguntei de novo.

    "Pun-du-fu Taaaan-ga!" - Guilherme já perdia a paciência. Que tia mais tapada!

    Até que, exasperado com a minha obtusidade, ele foi pegar o bonequinho que havia recebido junto com o lanche. Dali a pouco volta ele com o brinquedo, triunfante.

    "Viu? Esse é o Pundufu Tanga!"

    E, nas suas mãozinhas, estava um boneco do Kung Fu Panda!

    Esses sobrinhos...