domingo, 27 de setembro de 2009

Uma historinha sobre Beethoven

O ano era 1811. Beethoven tinha 41 anos e estava cada vez mais mergulhado na surdez que, progressivamente, ia minando sua felicidade. Com a saúde abalada, atacado por grandes períodos de depressão, o grande maestro afastou-se da agitação de Viena e foi passar uma temporada na cidade de Teplice, na região da Boêmia (onde atualmente é a República Tcheca). O local, uma famosa estância mineral, era quase obrigatório para quem quisesse recuperar a saúde.

As águas e os banhos termais de Teplice fizeram mais do que revigorar a saúde do maestro: também tiveram um efeito positivíssimo em sua criatividade. Pois foi lá que Beethoven compôs uma das peças mais lindas da sua prolífica carreira: a Sétima Sinfonia em Lá Maior. Em especial, o segundo movimento, em allegretto, que começa suave e depois explode em vigor, força, sentimento.

Beethoven concluiu a sinfonia em 1812 e a dedicou ao Conde Moritz von Fries, banqueiro vienense colecionador de artes e que apreciava muito música. A sinfonia estreou em 1813, durante um concerto beneficente em Viena organizado em prol dos soldados hferidos na batalha de Hanau, e foi um tremendo sucesso - principalmente o segundo movimento, que, a pedido do público, teve de ser repetido.

Eis a execução dessa peça magnífica pela Filarmônica de Berlim:

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Filme: A onda

Nessa era de Aquarius, terceiro milênio e etc., costumamos ter uma visão meio arrogante com relação ao passado. "Como éramos selvagens", comentamos, de nariz empinado, ao ver atrocidades que não aconteceram há tanto tempo - como a Segunda Guerra Mundial, por exemplo.

O grande enigma é: com tudo o que sabemos hoje, seria possível um ditador como Adolf Hitler ascender ao poder? Seria possível o surgimento de um regime como o nazi-fascista nesse admirável mundo novo? É esse o questionamento levantado pelo filme A onda (Die welle, 2008), produção alemã que encara corajosamente esse tema espinhoso.

"A onda": experiência de nazismo em sala de aula

A sinopse: Rainer é o professor de uma escola alemã, destacado pela diretoria para dar um seminário de uma semana sobre autocracia, tema que pouco o interessa - e muito menos aos alunos, terceira geração pós-guerra que já está com os pacovás cheios de ouvir falar do nazismo. Até que ele levanta a questão: "Seria possível, nos dias de hoje, haver um outro nazismo? Haver uma adesão popular tão maciça quanto foi naquela época?". Os alunos apostam que não, e o professor tem a ideia de fazer um pequeno teste: usar técnicas de persuasão nazista para conseguir a adesão dos alunos e simular uma autocracia na sala de aula. Os efeitos são surpreendentes, até mesmo para o professor.

O filme é livremente baseado na história real de um professor americano, que implementou a mesma técnica em uma escola na década de 1960. O roteiro é bem diferente do que a história documentada pelo tal professor americano, mas serve como alerta para todos nós sobre fantasmas que já julgamos mortos e enterrados: não estão tão enterrados assim que não possamos vê-los, à nossa espreita. A possibilidade de surgir um novo nazismo é tão presente quanto nós somos humanos.

domingo, 20 de setembro de 2009

Poe, o escritor alemão da Idade Média

Fazendo um tour pelos meus blogs de leitura diária, vejo um post da Raquel avisando sobre um congresso internacional que começa hoje em BH, em homenagem aos 200 anos de nascimento de Edgar Allan Poe. "Por que esse congresso não foi no Rio de Janeiro?!", foi meu primeiro pensamento.

Eu sou apaixonada pela obra do Poe. Meu primeiro contato com ele foi na sétima série, quando a professora de português passou como livro paradidático "O Escaravelho de Ouro e outras histórias", editado pela Ática. Contém algumas das histórias horripilantes de "Histórias Extraordinárias", o livro original do Poe: "O barril de Amontillado", "O gato preto", "A queda da casa de Usher", entre outros. Lembro de ter ficado muito assustada com "O gato preto" e logo elegi "O barril de Amontillado" como meu conto favorito.

Foi através do Poe que reacendi meu interesse por Sherlock Holmes: eu já gostava do detetive inglês por causa do jogo "Scotland Yard", da Grow, mas só fui ler os contos depois de ter conhecido o Poe, que foi o precursor do gênero policial. Sherlock é o herdeiro natural de Dupin, o detetive criado por Poe em "Os assassinatos da Rua Morgue" que, como Sherlock Holmes, recorre à dedução lógica para solucionar mistérios.

Muito bem, mas o que isso tudo tem a ver com o título maluco desse post? Bem, o título faz referência a uma história muito engraçada que aconteceu comigo envolvendo o Poe - história essa que conto agora.

Já adulta, ganhei de um namorado a obra completa do Poe. Na época estudante e estagiária, naquela contenção de despesas própria dessa fase da vida, adorei o presente. Eu morava no Rio e estudava e trabalhava em Niterói, gastava duas horas em transporte público para chegar do outro lado da poça. Com isso, eu lia muitos livros no ônibus e na barca, e as obras completas do Edgar Allan Poe eram perfeitas para esse propósito: como era um tomo único (e de dimensões pequenas também), podia levá-lo para ler no caminho para o trabalho.

Num desses dias de leitura no ônibus, um rapaz que vinha a meu lado resolveu puxar conversa:

"Poxa, você gosta mesmo de ler, né? Não largou esse livro nem por um instante..."

"Gosto" - foi minha resposta seca, porque detesto que me interrompam quando estou lendo.

Mas o rapaz não desistiu de puxar conversa comigo: olhou a capa do livro que eu estava lendo, leu o nome do autor e quis parecer entendido:

"Poe, é? Não é aquele escritor alemão?"

"Poe era americano", respondi, a título de elucidação.

"Ah...", fez ele, pensando um pouco. Porém, tentou mais uma vez:

"Era escritor da Idade Média, né?"

Não sei como o coitado do rapaz achou que haveria algum escritor americano na Idade Média, mas o esclareci que Poe não existia ainda na era medieval. Cansado de dar tanta bola fora, o cara simplesmente considerou:

"Acho que vou ler a obra dele também".

Espero sinceramente que o tenha feito.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Cartazes I

Um dia, no trabalho, o ralo da pia da copa entupiu legal. É o velho hábito de deixar passar um restinho de comida ralo abaixo que a gente sempre tem: de restinho em restinho, o ralo encheu o papo e entupiu de vez.

Problema resolvido, alguém achou importante colocar um aviso na copa para que as pessoas tomassem mais cuidado com os restos de comida da próxima vez que utilizassem a pia. Só que "restos" de comida virou uma outra coisa:

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Nobody puts Baby in a corner

Essa frase sempre levou a gente ao delírio - quando digo "a gente", quero dizer eu e minhas irmãs. Aquele momento em que Johnny Castle resolve voltar ao baile para lutar pela Baby em Dirty Dancing sempre ficou na minha cabeça: já pensou, você encostada num canto do salão como o resto do restolho, fazendo contraponto para a beleza da irmã... Deus me livre. Ainda bem que a Baby tinha o Patrick Swayze para salvá-la. Já comigo... já frequentei muitos cantos de muitos bailes, mas não tive a mesma sorte (:P).

Depois, veio Ghost - Do outro lado da vida. Quando esse filme passou nos cinemas e foi aquele sucesso estrondoso, eu tinha apenas 9 anos e não podia ir vê-lo - se não me engano, a censura era 10 anos. Sacanagem, eu estava tão pertinho dessa idade! Mas não deu: quem acabou indo foram minhas duas irmãs mais velhas. Lembro de esperar ansiosamente pela volta delas e, quando elas finalmente chegaram em casa, ainda discutindo animadamente o filme, implorei para que me contassem todo o enredo. Imagine a dificuldade das coitadas, tentando descrever quase duas horas de filme. E o nível de detalhamento que eu pedia! "Como era a mocinha?" "Ah, ela tinha cabelo curto, preto, lindo!" "E o mocinho?" "Era muito gato, louro dos olhos azuis" (nessa época a gente ainda não tinha visto Dirty Dancing). Só fui ver Ghost depois que saiu na locadora, quase um ano depois. E me apaixonei completamente pelo Sam, o fantasma.

Essas foram as lembranças que surgiram na minha cabeça hoje, quando entrei nos jornais online que sempre leio, todos os dias, e vi a triste notícia. Realmente, câncer de pâncreas não é pinto, é um câncer agressivo, e mesmo assim ele ainda conseguiu viver mais de um ano. Uma tremenda conquista. Porque, afinal, "nobody puts Patrick in a corner".

RIP, Patrick Swayze.

sábado, 12 de setembro de 2009

Flashes da Bienal

Nem bem cheguei da Bahia ontem, hoje já estava na Bienal do Livro, fuçando aquelas publicações difíceis de encontrar nas livrarias. Cheguei às 10h30 e achei que, em coisa de duas ou três horas, já estaria voltando para casa. Cá estou eu, chegando em casa às 21h... Por que ainda me iludo com essas coisas?

Não consegui me segurar e acabei comprando alguns livros. Tenho uma lista quase perpétua de livros para ler que só aumenta, e a Bienal não ajudou muito. Acabei voltando para casa com mais seis livros (um deles sendo uma coletânea!) para ler... Vou listá-los em ordem cronológica de compra:

1) "A bolsa e a vida - Economia e religião na Idade Média", Jacques Le Goff

Foi no estande da Record, que estava lotado de gente para a sessão de autógrafos do Bernard Cornwell. Enquanto os fãs esperavam ansiosos pelo autógrafo de um nada satisfeito Cornwall (estava com uma cara de cansaço...), passeei pelo estande semilotado e acabei, como sempre, parando na seção de História. Tenho um fraco por história medieval (vocês vão comprovar isso mais adiante), então gostei de cara do título desse livro. Comprei na hora.

2) "Os Cavaleiros de Cristo - Templários, teutônicos, hospitalários e outras ordens militares na Idade Média", Alain Demurger

Não disse que tinha um fraco pela Idade Média? Pois então.



3) "Cartas do Front - Relatos emocionantes da vida na guerra", Andrew Carroll

Comprei junto com o livro de cima e, meu Deus, nem sei como vou conseguir ler. Acho que só com uma caixa de lenço ao lado. O livro é todo formado por cartas enviadas por soldados a seus familiares, amadas, etc. Ele cobre desde as guerras mundiais até a guerra do Iraque. O autor ainda pesquisou o que aconteceu com cada uma dessas pessoas.

Olhando pelo lado mundano da coisa, esses dois livros foram o maior negócio que eu fiz na Bienal inteira. Eles estavam no estande já com 50% de desconto: os dois saíam à R$ 56, uma pechincha. Só que ainda pude usar o reembolso do ingresso da Bienal. Resultado? Paguei a bagatela de R$ 44 pelos dois livros.

4) "The plays of Oscar Wilde"

Pela parede envidraçada do estande da Livraria da Travessa, vi a ilha de livros da edição de pocket-books da Worsdworth Classics e não resisti: acabei entrando para garimpar alguma coisa. Achei esse tomo com todas as peças teatrais escritas pelo Wilde. Como romancista, confesso que não gostei do estilo dele, e justamente porque ele ficaria mais adequado se fosse uma peça de teatro. Então, voi-là! Quem sabe não gosto mais dele como dramaturgo?

5) "Hans Staden: Duas viagens ao Brasil"

No estande da L&PM, achei um livro com as cartas de Hans Staden, prefaciado pelo Eduardo Bueno: para uma viciada em História como eu, é como achar ouro. O estande da editora estava lo-ta-do ao limite do insuportável e, para justificar a fila imensa que eu ia pegar para comprar esse livro, resolvi levar mais um, que foi...


6) "Um bonde chamado desejo", Tennessee Williams
O livro me atraiu pela capa: a foto de um lindíssimo Marlon Brando como Kowalski. O filme eu não vi, mas achei melhor começar lendo a peça teatral. Depois suspiro por Marlon/Kowalski...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Foi por medo de avião...

Pelo título, pode parecer que vou falar sobre o pseudossumiço do Belchior nessas últimas semanas. Mas não. Apenas aproveitei o gancho para discutir algo mais pessoal: amanhã vou viajar a trabalho e tenho um tremendo cagaço de avião.

Não há motivo lógico para o temor, a não ser o noticiário atual (tantos casos de acidente, meu Deus!) e uma leve sensação de que, ao inventarmos o avião, fomos longe demais no lance de driblar a Mãe Natureza.

Meu pai é um aficionado por avião. Durante anos, seu jogo preferido foi o Flight Simulator; seu programa preferido na TV a cabo é Mayday, desastres aéreos, e já decretou que vai tirar o brevê de piloto assim que se aposentar (para nosso total desespero). Quando falo sobre esse medo, ele retruca: "Apenas um em cada um milhão de voos* termina em acidente. Mais fácil morrer na estrada do que no ar". Mas se estou num acidente de carro, minhas chances de sobrevivência são maiores. Agora, vai ver minha chance de sobreviver em um avião que cai no meio do Oceano Atlântico?

*Não sei se essa estatística é a correta, estou puxando pela memória. Mas um em um milhão já me pareceu demasiado frequente!