quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Menino-gol

– E aí, como está o futsal?

– Ontem eu fiz três gols.

Invariavelmente é assim que começa a conversa entre madrinha e afilhado. O menino de seis anos, franzino, cabelo liso de curumim, rosto moreno e sapeca, logo se levanta do sofá para encenar os melhores lances da partida. Ginga o corpinho, faz caras e bocas, pula de lado imitando o goleiro:

– Aí eu chutei assim, do lado do Enzo, e daí eu chutei pro cantinho do gol. Foi um golaço – avalia.

– É mesmo? – respondo, espantada.

É um verdadeiro menino-gol esse meu afilhado. Se partida de aula de futsal valesse alguma coisa, logo veria a carinha do Gui nos gols do Fantástico pedindo que tocassem para ele “Baby”, do Justin Bieber (o craque mirim, infelizmente, está nessa onda).

O que me deixa curiosa é o número quase cabalístico – três – se repetir consistentemente. Não são dois, nem quatro, nem seis gols que o Gui faz a cada partida de futsal: são sempre três. Talvez ele ache que três gols sejam mais do que suficientes para manter sua imagem de craque e deixe o restante dos tentos para seus colegas menos talentosos. Ou talvez tenha se inspirado no Túlio e começado a "criar" gols, para aumentar a conta. Não sei.

Só sei que vê-lo assim, brincando com a bola imaginária a seus pés simulando dribles e chutes a gol, é estar diante do menino-moleque genuinamente brasileiro. Até que ele canse de contar histórias e vá jogar uma partida no Playstation – de futebol, fique claro.