sábado, 9 de janeiro de 2010

O guarda-chuva

São as pequenas coisas que observamos no cotidiano o que nos faz perder completamente a fé na humanidade, de que ela pode se regenerar.

Essa semana, estava no ônibus voltando para casa (foi o dia que teve aquele temporal de verão), sentada ao lado de um homem que dormia desde que eu entrei no ônibus. Lá pelas tantas, numa curva mais acentuada do veículo, um guarda-chuva preto rolou de debaixo do banco para o corredor do ônibus e lá ficou, bem no meio do caminho.

Eu estava lendo e, como estava vendo tudo com uma visão periférica (e dispersiva, ainda por cima) não tinha absoluta certeza de que o guarda-chuva tinha vindo do banco em que eu estava. Uma menina o pegou, perguntou se era meu e fez o mesmo com os passageiros ao redor. Como ninguém confirmasse a propriedade do guarda-chuva, achamos que era do moço que estava mesmo ao meu lado, dormindo a sono solto. Ninguém quis acordá-lo, então a menina ficou segurando o guarda-chuva, esperando-o acordar para devolvê-lo.

Só que ela iria saltar no ponto seguinte; então, deixou o guarda-chuva no banco vazio ao lado de uma outra moça e saiu. De rabo de olho, percebi que a moça pegou o guarda-chuva e ficou segurando, como se avaliasse o seu estado. Não me liguei muito nesse gesto e continuei a minha leitura.

No outro ponto, essa moça desceu; fato a que não dei maior importância, a não ser a possibilidade de sentar no banco da janela que ela havia deixado vago. Qual não foi minha surpresa ao ver que o guarda-chuva não estava mais no banco ao lado, esperando o seu dono! A moça simplesmente resolveu se apossar de um guarda-chuva que não era seu, no melhor estilo "achado não é roubado".

Mais adiante, o homem finalmente despertou e começou a procurar o guarda-chuva que, de fato, era dele. Mas já era tarde: alguém já havia levado. Perdeu, perdeu.

Esse é o estado de coisas aqui no Rio e, quiçá, no Brasil. Foi ao vento, perdeu o assento. Depois essas mesmíssimas pessoas reclamam da corrupção em Brasília... O código de ética brasileiro é realmente muito maleável, vai ao sabor das conveniências.

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