segunda-feira, 1 de março de 2010

O chiclete e os passarinhos

Trabalho em um órgão público federal e, às vezes, acontecem certas coisas que nem Deus acredita. Principalmente nos malfadados eventos que reúnem gerentes de todo o país para discutir assuntos da maior importância... 

Nesses eventos, então, o bicho pega! O afã por falar bonito, se expressar bem, sempre acaba fazendo com que alguns incautos tentem parecer cultos para puxar os holofotes para si. No final das contas, acabam falando a maior bobagem sem ter a menor noção de como começaram. Porque, para eles, não importa o que eles vão falar: eles precisam falar qualquer coisa, ser notados, mesmo que de forma negativa - tipo "falem mal, mas falem de mim". O título desse post faz referência a um acunticido que ilustra bem essa "dinâmica organizacional".


Foi há coisa de duas semanas. Gerentes de todo os estados do Brasil estavam na sede da empresa para uma reunião de dois dias com os chefões - o presidente do instituto, diretores, o coordenador-geral, enfim, todos os poderosinhos. Formou-se aquela mesa de abertura do evento, cada otoridade fez seu discurso e pronto: os trabalhos estavam prestes a começar. No que um cidadão levanta a mão e pede para fazer um aparte.

"Eu gostaria de falar uma coisa, seria possível?"

Permissão concedida.

"Eu gostaria de pedir que as pessoas não jogassem chiclete no chão, porque isso está matando os passarinhos".

Momento WTF? em todo o auditório. O rapaz prossegue:

"É, a gente vê os passarinhos carregando o chiclete no biquinho, realmente, não é legal. Como o (nome do instituto) é um órgão de utilidade pública, achei por bem pontuar isso"*. Sem qualquer transição de tópico, o cara começou a lembrar a morte de Zilda Arns no Haiti para então, finalmente, abordar um assunto que realmente tivesse algo a ver com a reunião.

Após quase 20 minutos de blá-blá-blá sem qualquer sentido, ele termina o que tinha para dizer e a reunião é retomada como se nada tivesse acontecido. Quer dizer, quase nada: na mesa de abertura, um dos diretores ainda tenta, a todo custo, abafar uma gargalhada.


* Se órgão fosse o Ibama, tudo faria mais sentido. Mas não, não é o Ibama...

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