terça-feira, 30 de março de 2010

Resenha: Nunca houve um homem como Heleno

Antes de Edmundo pensar em nascer, e muito antes da expressão bad boy ser cunhada, o futebol brasileiro teve um jogador controverso, irreverente e, por vezes, insuportável mesmo. Todos esses adjetivos se materializavam na figura do centro-avante Heleno de Freitas, herói do Botafogo nos tempos áureos do time carioca, tema da biografia Nunca houve um homem como Heleno, do jornalista Marcos Eduardo Neves.

De gênio irascível e com complicações de saúde devido ao vício em éter e a uma sífilis diagnosticada tardiamente, Heleno não tinha papas na língua e falava tudo o que lhe vinha a cabeça. Como uma amostra de como ele era boquirroto, segue um trecho do livro que exemplifica bem seu temperamento:

O Campeonato Brasileiro de 1946 foi decidido em março de 1947, com a seleção carioca desafiando a paulista no Pacaembu. O jovem pernambucano Orlando de Azevedo Viana - que por sua categoria refinada no meio-de-campo do Fluminense foi apelidado de Orlando Pingo de Ouro -, sentindo a pressão, se mostrava tímido em excesso no primeiro tempo. No vestiário, em vez de dar força ao estreante, Heleno esbravejou com o colega de equipe:
- Você não é Pingo de Ouro! É pingo de merda!
Para os jornalistas, foi mais comedido:
- Se ele é Pingo de Ouro, eu sou as cataratas do Niágara jorrando brilhantes. 

O livro está repleto de histórias semelhantes, e não há como saber que sentimentos Heleno de Freitas nos desperta: raiva, desprezo, pena, comicidade? É um misto de tudo isso.

O fato é que a biografia é escrita de forma envolvente, uma leitura que prende a atenção. Apenas peca por se repetir em alguns momentos, mas a história incrível do biografado vale o pequeno esforço de relevar este pormenor.

Avaliação? 4,5 de cinco estrelas. Simplesmente perfeito para quem, como eu, adora a história do futebol brasileiro.

Em tempo: há rumores sobre a produção de uma adaptação cinematográfica dessa biografia, com Rodrigo Santoro como Heleno de Freitas. Torço para que isso se concretize! Seria um filme muito interessante.

3 comentários:

  1. Elaine, me sinto grato por teu belo comentário.
    É muito bom saber que pessoas como você gostaram do meu livro.
    Também espero que este filme venha com força, para trazer de novo à tona esse personagem fantástico, riquíssimo.
    Grande abraço e considere-me desde já um amigo,
    Marcos Eduardo Neves
    me.neves@uol.com.br

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  2. Meu pai sempre falava neste jogador, parece ter sido mesmo um genio da bola. Desconhecia este lado controverso da sua personalidade.

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  3. Que interessante, não sou muito ligada ao futebol... mas você abriu meus olhos para isso, com sua resenha tão bem delineada sobre este "bad boy" do futebol.

    bjus

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