sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Meu momento "Meia-noite em Paris"

Vi Meia-noite em Paris no outro dia e tive uma iluminação: eu sou o próprio Gil, personagem do Owen Wilson.

No filme, o Gil descobre um meio de chegar a Paris dos anos 1920 e se esbalda com F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Picasso e Salvador Dalí, entre outros. Daí, a mocinha que ele conhece nos anos 1920 diz que adoraria viver na Paris da Belle Époque, na virada do século XX. Quando eles finalmente chegam lá e ela conhece seus ídolos Toulouse-Lautrec e Gauguin, estes lhe informam que, infelizmente, minha filha, você não está numa boa época: bom mesmo devia ter sido viver na época da Renascença.


Woody Allen resolve interromper por aí essa viagem cada vez mais distante aos primórdios da arte, antes que alguém dissesse que arte de verdade mesmo eram as pinturas rupestres dos primeiros homens. Mas uma lição fica: a gente sempre acha que antigamente era melhor, que a cultura hoje é uma porcaria, que cena cultural efervescente mesmo fica no passado. E eu me identifiquei muito, porque é o tipo de coisa que eu penso o tempo todo.

Porque, assim como o roteirista Gil, que suspira pela Paris dos anos 1920, eu também suspiro por priscas eras, épocas longínquas em que eu não era nem rascunho. Normalmente, sempre penso que gostaria de ter vivido nos anos 1960, curtindo os Beatles assim que seus vinis saíssem do "forno" (imagina a expectativa de aguardar um novo lançamento dos Beatles!!!). Mas outra época começou a atrair a minha atenção.

Comecei a ler recentemente as Obras Reunidas do Fernando Sabino, autor a quem dedico extrema admiração. Poderia até mesmo dizer que foi o primeiro autor que conheci, o que marcou minha vida literária para sempre, tanto como leitora, quanto como escritora, enfim: vamos à história.

Estou lendo o livro "Gente", em que ele biografa seus amigos e conhecidos em textos curtos e deliciosos de se ler. E vai vendo a turma de amigos: Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende etc. Aqui, ele descreve essa roda de amigos em um bar, bebendo alegremente; acolá, o mesmo grupo, já mais pra lá do que pra cá, discutindo sobre arte, literatura. E, de repente, me peguei pensando se hoje em dia acontece a mesma coisa. Será que, neste exato momento, há uma roda de amigos, de artistas, trocando experiências, discutindo filmes, livros, músicas, quadros, enquanto produzem a própria história da arte? Será que um dia, algum jovem de 2050 vai parar, suspirar e dizer: "nossa, queria tanto ter participado dessa época! Ter convivido com o Fulano de Tal, dessa cena cultural tão efervescente!". Por que o passado sempre parece melhor? Por que a gente tem essa incapacidade de enxergar o que acontece bem debaixo de nossos narizes?

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