Esta semana tomei dois sustos. É que dois dos meus autores preferidos estão tendo suas obras adaptadas, e vi dois trailers - de um filme e uma série - dessas adaptações. O motivo do susto é que, pelo que ficou mostrado, as duas adaptações parecem modificar muitas coisas do original.
Não que necessariamente isso seja uma coisa ruim. Não sou "fãndamentalista", de achar que uma adaptação tem que ser exatamente igual ao original. Mas algo não bateu legal em um dos trailers. Vamos por partes:
1) Sherlock HolmesO meu detetive preferido vai virar filme a ser lançado esse ano. Quem dirige é Guy Ritchie (ex-Madonna), que tem uns filmes de ação bem legais (gosto especialmente de
RocknRolla). É uma escolha inusitada de diretor, visto que Sherlock é super cerebral e raramente recorre ao seu passado como pugilista para pegar os bandidos.
Quando vi o trailer, percebi que Guy imprimiu seu ritmo: a impressão que deu é de um 007 na Inglaterra vioriana. Sherlock soca oponentes, luta muito e flerta intensamente com Irene Adler (que não se chama Amélia, mas que ele diz ser a "mulher de verdade" no conto
Um escândalo na Boêmia). Bem diferente, portanto, do detetive fleumático e quase assexuado a que estamos habituados.
Tudo considerado, não achei uma alteração ruim e vai servir para dar uma olhada numa personalidade alternativa. É como se fosse aquele Planeta Bizarro dos quadrinhos do Superman, em que tudo é ao contrário. Tendo isso em mente, pretendo me divertir bastante vendo esse filme - ainda mais que quem faz Sherlock Holmes é esse fenômeno que se chama Robert Downey Jr.
2) EmmaDepois de anunciar a morte do drama de época na sua grade de programação, a BBC nos dá a derradeira oferenda à Jane Austen: uma adaptação de
Emma. Está longe de ser meu romance austeniano favorito, mas
Emma tem certas particularidades que não vi no promo liberado pela rede de TV britânica.

Foi um susto quando anunciaram oficialmente que Jonny Lee Miller (de
Eli Stone) interpretaria o austero sr. Knightley. Cara de novinho, aparência muito descansada e marota, o ator não tinha nada que pudesse sugerir um homem de quase 40 anos, sisudo e dono de uma propriedade, com várias pessoas sob sua influência (como Knightley é descrito do livro). E, depois de ter visto o trailer, sorry: o erro de casting se confirmou, infelizmente. Ele é risonho e não passa o ar grave que Knightley deve ter. Sem contar na suprema injustiça de tê-lo interpretando, pela segunda vez, um herói austeniano (ele foi Edmund Bertram naquela versão grotesca de
Mansfield Park).
Há uma cena que me incomodou demais. Nela, Emma chora convulsivamente e diz a Knightley que o ama, mas que não pode se casar com ele. Depois, sai correndo, desesperada. Ora, isso não condiz em nada com a personalidade de Emma!
Parece contraditório que eu goste de uma adaptação que muda totalmente a personalidade do Sherlock Holmes, mas fique irritada com outra que altera a de Emma Woodhouse. Eu digo que não. Se for para mudar um personagem, prefiro como Guy Ritchie fez: mudou logo tudo, subverteu a ordem. Porque, se é para deixar Emma quase igual ao romance, para que enfiar uma cena piegas daquela e que nada tem a ver com o personagem original?
Mas Jane Austen é vício, e mesmo a pior adaptação de sua obra merece uma vista, nem que seja para falar mal.