Estou no trabalho e o celular toca. É minha mãe, que mora em outra cidade e nunca me liga no horário de trabalho (nem no meu horário, nem no dela).
"Oi, filha, você está com a sua irmã?"
"Não, mãe, estou no trabalho, em reunião. Não sei que horas volto para casa."
Silêncio.
"Sabe que é, filha, é que o veterinário esteve lá em casa e o Pit não está bem do coração, está doente."
Meu cachorrinho Pit
Pit é o cachorro de 17 anos que tenho desde menina e que, infelizmente, não pude trazer para o Rio quando me mudei para cá. Minha mãe jamais telefonaria no horário de trabalho só para dizer que ele estava doente. Desconfio do pior.
"Mãe, você não está só dizendo isso para amortecer o impacto da notícia, né? O Pit já está morto?"
Depois de um pequeno silêncio, ela diz "Não" três vezes. As três vezes não me convencem e desligo o telefone certa de que ele morreu.
As horas no trabalho não passam e, ainda por cima, me forço a ir à academia. Não consigo me concentrar nos exercícios e vou embora para casa mais cedo.
A cada passo mais perto de casa, minhas pernas enfraquecem, ficam pesadas, e meus olhos ardem. Quando finalmente fecho a porta atrás de mim, dou vazão às lágrimas e reúno coragem para ligar para a casa dos meus pais e confirmar a triste notícia.
Jamais haverá outro cachorro como o Pit. Um vira-lata inteligente, valente e, sobretudo, companheiro. Durante seu "reinado" como bicho de estimação na nossa casa, tivemos mais dois cachorros que não conseguiram se adaptar a ele (e nem ele aos outros), nos levando ao dilema do "ou eu ou ele". Sempre escolhemos o Pit.
Dos 11 aos 28 anos ele foi meu amigo. Vivi mais tempo da minha vida com do que sem ele; como, de repente, me acostumar à sua ausência?!
Poucos entendem a dor que sinto e sei que posso até virar piada para algumas pessoas, para quem cachorros são apenas animais irracionais e inferiores a nós. Isso é porque elas nunca tiveram um Pit em suas vidas.
Só posso agradecer a Deus por ter me abençoado por 17 anos com esse cachorro sensacional. Vai com Ele e São Francisco de Assis, meu amigo! A gente ainda se encontra um dia.